Padre Feytor Pinto, pároco da antiga primeira-dama, no Campo Grande, em Lisboa, recorda a sua «cultura, simplicidade e serviço»
Lisboa, 07 jul 2015 (Ecclesia) – O padre Vítor Feytor Pinto, responsável da Paróquia do Campo Grande, em Lisboa, afirmou que Maria Barroso era uma mulher de “cultura vastíssima” e uma cristã “absolutamente invulgar” que participava na vida paroquial com atitude de serviço e disponibilidade a todos.
“Para a nossa comunidade paroquial é uma grande perda indiscutivelmente pelo exemplo de vida que nos dava. Para a sociedade perdemos uma mulher de cultura vastíssima, de intervenção política nos quadros da justiça e dos valores humanos e ganhamos uma mulher cristã no céu que vai participar de certeza da alegria de Deus e interceder por nós”, comentou à Agência ECCLESIA.
Maria Barroso morreu esta madrugada, aos 90 anos, no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, onde estava internada desde 26 de junho.
O padre Vítor Feytor Pinto, que acompanhou a mulher do ex-presidente da República Mário Soares desde que foi internada, assinala que “foi um momento de libertação ao encontro de Deus”.
“Como mulher de fé sabe perfeitamente que a vida não acaba apenas se transforma e portanto tinha consciência plena disso. Ela ia-se preparando muito para este momento”, revela o sacerdote que adianta que Maria Barroso “ultimamente” falava como “bastante frequência” nesta eventualidade: “Dizendo concretamente que se sentia preparada e, como mulher de fé, terá vivido os últimos momentos da sua vida consciente que ia ao encontro de Deus”.
O padre Vítor Feytor Pinto destaca de Maria Barroso a “cultura vastíssima” que a Paróquia do Campo Grande beneficiou através de diversas formas de disponibilidade e serviço quando durante a semana “ajudava crianças que precisavam de apoio no estudo de português e outros” e ensinava também os leitores a “pronunciarem bem as palavras quando falassem ao microfone” e também a saber “lidar” com o microfone.
“Tinha uma nota muito interessante, aos domingos quando vinha para a missa das 19h15 sentavam-se no bar durante uma hora e ia acolhendo e recebendo as pessoas que queriam falar com ela. É fantástico, estava numa simplicidade e proximidade absurdamente extraordinária”, acrescenta o pároco sobre quem “acompanhava constantemente” as atividade paroquiais.
O padre Vítor Feytor Pinto foi o responsável da Comissão Nacional da Pastoral da Saúde, durante 28 anos, e recorda que Maria Barroso acompanhou-o “quase 20 vezes” ao Vaticano, para participar em encontros internacionais, “onde teve oportunidade de conversar com os três Papas [São João Paulo II; Bento XVI e Francisco]”.
“A mesma simplicidade com que falava com o Papa e os cardeais falava com os nossos pobres que estão à porta da igreja. Respondia a pequeninos problemas que quaisquer das pessoas mais humildes tinham”, recorda.
O sacerdote relembra que conheceu a fundadora do Partido Socialista em 1984 quando Maria Barroso o procurou para falar sobre o “problema do voluntariado” e mais tarde convidadou-o para integrar um gabinete de ação social sobre “emergência infantil”.
Sobre o lado político, o entrevistado comenta que os cristãos têm “responsabilidades” e a sai paroquiana soube “intervir” na sociedade lutando pelos “grandes valores que a Igreja defende”: “A liberdade; dignidade humana; paz; harmonia; verdade que marcavam profundamente a sua vida.”
Num comunicado, os Socialistas Católicos também lamentam “com profundo pesar e tristeza” a morte da fundadora do Partido Socialista e recordam que as “sábias palavras” quando afirmou: ‘O Socialismo Democrático confunde-se com a Doutrina Social da Igreja.’
CB/PR