Óbito: «Há dias em que madrugamos e julgamos que vamos encontrar Deus… Em vão, Deus levanta-se sempre mais cedo» – Eduardo Lourenço

Responsáveis nacionais evocam percurso do ensaísta

Foto: Lusa

Lisboa, 01 dez 2020 (Ecclesia) – O diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (SNPC), da Igreja Católica, evocou hoje a figura do ensaísta Eduardo Lourenço, falecido aos 97 anos de idade, como “grande pensador sob a forma de ensaio”.

“Até aos últimos dias foi sempre oferecendo o seu contributo magnífico para a nossa equação de pensamento e de ação com o mundo”, refere José Carlos Seabra Pereira à Agência ECCLESIA.

O professor universitário destaca a forma como Eduardo Lourenço conciliava uma reflexão de filosofia da história e sempre muito atento e interventivo sobre o que acontecia no plano nacional e internacional.

“Era notória a fidelidade aos pressupostos de um humanismo cristão que reavivava as marcas do que fora a sua educação católica”, acrescenta, a respeito do último vencedor do prémio de cultura “Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes, atribuído em abril deste ano pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.

Seabra Pereira, lembra que na ocasião, o júri sublinhou que, desde cedo, Eduardo Lourenço reconhecia que a sua demanda do conhecimento se inscrevia sempre na “vivência da verdade”.

O responsável do SNPC salienta “o exercício radical do pensamento”, que levou muitas vezes o falecido ensaísta ao confronto inquieto como o sentido do trágico.

Entre os autores que marcaram esse trabalho, Seabra Pereira destaca nomes como Antero de Quental, Kierkegaard e o encontro demorado com Fernando Pessoa.

“Há dias em que madrugamos e julgamos que vamos encontrar Deus… Em vão, Deus levanta-se sempre mais cedo”, escreveu Eduardo Lourenço.

José Carlos Seabra Pereira sublinha que o ensaísta era um pensador que não vivia alheado do mundo e nada o impedia de reagir a tudo o que lhe parecia mais importante na sua circunstância histórica.

Ao ser distinguido com o prémio “Árvore da Vida”, Eduardo Lourenço recordou a sua relação com o Padre Manuel Antunes e com a sua obra, revelando as afinidades de um pensamento sempre motivado pela busca da verdade e inscrita nesse horizonte do humanismo cristão.

O primeiro-ministro, António Costa, anunciou hoje que quarta-feira será dia de luto nacional, pela morte do ensaísta.

Marcelo Rebelo de Sousa, presidente da República Portuguesa, evocou, em nota oficial, o percurso de Eduardo Lourenço.

“Foi, desde o início da segunda metade do século passado, o nosso mais importante ensaísta e crítico, o nosso mais destacado intelectual público”, refere o texto divulgado pela Presidência da República.

Devemos-lhe algumas das leituras mais decisivas de Pessoa, que marcam um antes e um depois, e um envolvimento, muitas vezes heterodoxo, nas questões religiosas, filosóficas e ideológicas contemporâneas, do existencialismo ao cristianismo conciliar e à Revolução”.

Marcelo Rebelo de Sousa recorda que Eduardo Lourenço foi vencedor de diversos prémios, incluindo o Pessoa e o Camões, e distinguido por quatro vezes com ordens nacionais.

A Ministra da Cultura, Graça Fonseca, lamenta a morte do professor, filósofo, escritor, crítico literário e ensaísta.

“Através da nosso património literário interpretou Portugal, pensou a Europa e interrogou o mundo, com uma liberdade e uma originalidade que o tornam não só um dos autores centrais da literatura portuguesa, mas também um farol cuja luz ilumina os séculos de pensamento e de cultura portuguesa”, sustenta, em nota enviada aos jornalistas.

“Se um dia todos os vestígios da nossa cultura desaparecessem, a obra de Eduardo Lourenço seria sempre uma oportunidade e um ponto de partida para a sua reconstrução e essa é, talvez, a maior dívida que sempre lhe teremos”, acrescenta Graça Fonseca.

Para D. João Lavrador, presidente da Comissão Episcopal responsável pelo setor da Cultura na Conferência Episcopal Portuguesa, Eduardo Lourenço colocou “toda a sua vida ao serviço do bem comum pelo seu próprio pensamento, questionando e abordando os grandes temas da humanidade como o sentido da vida e o sentido da história”.

HM/OC

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