Hélder Pires, Diocese de Bragança-Miranda.
O voluntariado é uma prática fundamental que, além de beneficiar aqueles que recebem os serviços, proporciona um desenvolvimento significativo para os próprios voluntários e para a sociedade como um todo. Nesse contexto, a atuação voluntária não se limita apenas a questões de caridade, mas se configura como uma ferramenta transformadora que pode alterar realidades sociais, incentivar a cidadania e fortalecer os laços comunitários. Além disso, oferece uma experiência única de crescimento pessoal e profissional para quem se engaja nesse tipo de ação.
O voluntariado desempenha um papel essencial na sociedade portuguesa, funcionando como um catalisador para a coesão social e o desenvolvimento comunitário. Ao longo dos últimos anos, este setor tem mostrado resiliência e capacidade de adaptação, mesmo diante de desafios como a pandemia e crises económicas. Com base nos dados apresentados no estudo “Diagnóstico das ONG em Portugal 2015-2024” pode verificar-se a importância do voluntariado em Portugal, os desafios enfrentados pelas organizações e as oportunidades de crescimento.
O voluntariado em Portugal tem sido um motor de inclusão social e um reflexo de cidadania ativa. Segundo o estudo da ATES (Área Transversal de Economia Social da Católica Porto) (2024), a maioria das organizações não governamentais (ONG) no país está envolvida em áreas como serviços sociais, saúde, proteção ambiental e educação (Diagnóstico ONG 2015-2024. Estas áreas impactam diretamente a qualidade de vida das populações mais vulneráveis, criando uma rede de apoio essencial onde os serviços públicos, muitas vezes, não conseguem chegar.
Além disso, o envolvimento de voluntários traz benefícios imensuráveis para as comunidades e para os próprios indivíduos. Estudos mostram que o voluntariado contribui para o bem-estar mental e emocional dos voluntários, enquanto fortalece o tecido social ao promover valores como solidariedade e responsabilidade coletiva.
Apesar da sua relevância, o setor do voluntariado em Portugal enfrenta desafios significativos. A redução no número de associados e a dificuldade de atrair voluntários mais jovens são preocupações apontadas no relatório (Diagnóstico ONG 2015-2024). Enquanto a população envolvida em atividades voluntárias envelhece, o envolvimento das gerações mais jovens continua limitado, o que pode comprometer a sustentabilidade das organizações a longo prazo.
Outro desafio identificado é a falta de recursos financeiros e humanos para manter e expandir programas de voluntariado. Muitas organizações não conseguem implementar processos de planeamento estratégico ou avaliação de impacto, o que limita sua eficiência e capacidade de angariar novos fundos e parceiros (Diagnóstico ONG 2015-2024).
Embora os desafios sejam evidentes, as oportunidades de crescimento para o voluntariado em Portugal são igualmente promissoras. A digitalização e as redes sociais abriram novas possibilidades para a mobilização de voluntários, permitindo que as ONG alcancem um público mais amplo e diversificado. A promoção de parcerias com empresas privadas e o governo também tem o potencial de fortalecer o setor, especialmente no desenvolvimento de programas voltados para os jovens.
O impacto do voluntariado na sociedade é profundo e multifacetado. Diversas pesquisas demonstram que o trabalho voluntário contribui diretamente para a redução das desigualdades sociais e a promoção do bem-estar coletivo. De acordo com um estudo realizado pela ONU (Organização das Nações Unidas), o voluntariado desempenha um papel essencial no fortalecimento das comunidades e na promoção de uma maior coesão social, sendo uma das estratégias mais eficazes para reduzir a pobreza e a exclusão social (ONU, 2018).
Além disso, o aumento da visibilidade do impacto das ONG na sociedade portuguesa, por meio de iniciativas de comunicação e marketing, pode atrair mais apoio da sociedade civil e do setor empresarial. Como destaca o estudo, 93,1% das organizações já monitorizam as suas atividades, mas há espaço para aprimorar essas práticas com avaliações externas mais abrangentes, incluindo estudos de impacto (Diagnóstico ONG 2015-2025).
Em Portugal, o voluntariado tem também um papel crucial na promoção da cidadania ativa e da participação política. Ao envolver-se em causas sociais, os voluntários tornam-se mais conscientes das realidades que os rodeiam, o que pode motivá-los a tomar uma postura mais ativa na vida política e comunitária. Através do envolvimento com diferentes grupos sociais e culturais, os voluntários têm a oportunidade de ampliar a sua visão sobre questões como a desigualdade social, a educação e os direitos humanos.
O voluntariado atua como uma verdadeira escola de cidadania, onde as pessoas não só ajudam o outro, mas também aprendem a lutar por um bem comum. Este impacto é especialmente notável em áreas como a inclusão social, onde os voluntários contribuem para a redução das barreiras que marginalizam certos grupos da sociedade portuguesa, como pessoas com deficiência ou imigrantes (Observatório do Voluntariado, 2019).
O voluntariado em Portugal é uma força vital para a construção de uma sociedade mais justa e solidária. Embora enfrente desafios estruturais e financeiros, o setor tem mostrado resiliência e inovação. Cabe às organizações, ao governo e à sociedade civil unir esforços para valorizar e expandir esta prática, garantindo que continue a ser um pilar fundamental no desenvolvimento social do país.
O futuro do voluntariado em Portugal depende de um compromisso renovado com a solidariedade e o apoio mútuo, pilares que sustentam o trabalho incansável das ONG e dos seus voluntários. Para que o voluntariado continue, é necessário investir em políticas públicas que apoiem as ONG, promover a inclusão de jovens e explorar plenamente o potencial das ferramentas digitais. As transformações vividas pelo setor nos últimos anos demonstram a sua capacidade de adaptação, mas também sublinham a necessidade de um esforço conjunto para garantir a sua sustentabilidade e relevância.
O voluntariado é, e continuará a ser, um motor essencial para a transformação social e o desenvolvimento humano em Portugal. Como sociedade, temos a oportunidade e o dever de reforçar este movimento, para que ele continue a ser uma ponte para a transformação social.
Referências
- Observatório do Voluntariado. (2019). A Prática do Voluntariado e a Inclusão Social em Portugal. Lisboa: Observatório do Voluntariado.
- ONU (2018). Voluntariado para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. United Nations Volunteers.
- Fundação Calouste Gulbenkian. (2015). Diagnóstico das ONG em Portugal 2015.
- Fundação Calouste Gulbenkian & Universidade Católica Portuguesa. (2024). Diagnóstico das ONG em Portugal 2015-2024.
Helder Pires
Coordenador, Observatório Social – Diocese de Bragança-Miranda