Miguel Oliveira Panão (Professor Universitário), Blog & Autor
Uma senhora entra na piscina, pede o seu iPhone e durante alguns minutos procura a melhor pose para a sua selfie. No museu do Louvre em Paris existe um quadro famoso que gera sempre uma grande enchente de pessoas na sala onde está exposto. Há enormes filas de espera para ver esta senhora célebre pintada por Leonardo Da Vinci, a Mona Lisa. Mas o que fazem as pessoas? Reparou o autor australiano Daniel Midson-Short que tiravam selfies. O que vi tantas vezes no Santuário de Fátima? Mais selfies. Podem achar que estou a exagerar, mas não estamos diante da cultura mais narcisista de todos os tempos?
Esta cultura ataca especialmente os jovens com a proliferação de fotos em redes sociais como o Instagram e Snapchat. Estima-se que mais de 1 milhão de selfies sejam tiradas por ano, e que um jovem de hoje tire em média mais de 25000 selfies em toda a sua vida. Lembro-me de assistir a um episódio destes no átrio da saída do Metro da Alameda em Lisboa. No meio, uma jovem pousava para si mesma tirando uma selfie, enquanto várias pessoas por ela passavam e riam pela figura ridícula que estava a fazer. Para mim, o mais chocante foi ela não se dar conta disso, ou se dava, não se importar muito.
Tirar uma fotografia a si mesmo ocasionalmente é uma coisa, mas sistematicamente quer dizer algo mais. Will Storr no seu livro Selfie transmite a mensagem de que gostamos de pensar o quanto somos um produto das nossas escolhas e experiências, mas o tipo de pessoa que queremos ser não resulta apenas do livre arbítrio. A cultura possui uma influência maior do que pensamos e molda o conceito que temos de nós mesmos. A imagem do nosso “eu” perfeito através de uma selfie é moldado por influências económicas, intelectuais e tecnológicas, tornando-se num símbolo de um tipo de sociedade hiper-individualista, viciada na internet e que leva cada pessoa a competir consigo própria. Pois, parece andarem à procura da selfie perfeita como a que mais “Likes” conseguir. Mas não significa isso que o narcisismo manifesta uma grande falta de confiança e insegurança do valor que se tem como pessoa?
Qual a mudança que precisamos hoje para originar uma outra onda cultural? Uma onda em que aprendo a não me voltar tanto para mim próprio, mas onde me identifico mais se olhar o outro e prestar atenção. Algumas sugestões.
Tirar menos fotos. Parece contra-intuitivo, mas se pensares bem, por vezes, perdemos tanto por tão pouco. Por que razão numa festa de Natal, por exemplo, os pais fartam-se de tirar fotos ao filhos, quando se baixarem o telemóvel, ali estão eles à sua frente em “alta-resolução”? Se tirássemos menos fotos, talvez valorizássemos mais os momentos que valem mesmo a pena registar. Consequentemente, quando penso em tirar menos fotos, as selfies são, seguramente, o primeiro tipo de fotos a cair.
Publicar menos fotos nas redes sociais. Dou-te uma novidade. Não precisas de uma selfie para saber o quanto os amigos verdadeiros “gostam” de ti. Esses sabem dizê-lo explicitamente. Face a face. A viva voz.
Menos Likes. Mais mensagens pessoais. Que significado tem, realmente, um “Like”? Não será antes um gesto automático para dar a entender que penso em ti porque sim, mas sem saber bem como estás? Sei apenas como pareces estar. Quem sabe o que uma mensagem pessoal pode fazer quando alguém está realmente em baixo, e que não dá isso a entender por fotos onde os sorrisos pode ser apenas ilusões que escondem verdadeiros sofrimentos.
Quem sabe se te voltares menos para ti próprio e mais para tantos outros à tua volta, reparas n’Aquele Outro que olha sempre por ti e para ti, de modo especial e eterno. Penso… no Seu rosto poderás descobrir o teu verdadeiro selfie.
Convido-te a fazer essa experiência. Ele pode estar no outro com quem te encontras durante o dia. Na Eucaristia, incluindo momentos de Adoração. Ele está naquele que sofre e se sente abandonado. Vai ter com Ele. Podes sentir a Sua presença no mundo natural. Lugares para O encontrares não faltam. Basta prestares atenção.