O turismo e a evangelização pelo património da Igreja

Quando falamos de evangelização somos levados, inadvertidamente, a pensar exclusivamente em palavras, em discurso, esquecendo que o mesmo mistério (Logos) traduzido na palavra escrita e oral, é transmitido por muitas outras formas que, para muitos, poderão ser, em certas circunstâncias, as mais eloquentes. Aproximam-se as férias. A procura de outros lugares é uma oportunidade para visitar, ao menos por curiosidade, um monumento, para participar numa festa, enfim, para ir à procura do desconhecido…

O turismo oferece, pois, uma oportunidade única para uma evangelização através do património da Igreja. Seremos capazes de tirar partido disso? «Herdamos um património excepcional que pode, ainda hoje, testemunhar e instruir».

Para nossa reflexão, transcrevemos um extracto da comunicação do bispo de Amiens ao Comité episcopal do turismo e dos tempos livres de França (tradução de La Documentation Catholique, nº 2162, 15 Junho 1997, pp. 588-589).

«O turismo vem-se tornando cada vez mais cultural. O que atrai o turista é frequentemente a natureza (o sol, o mar, a montanha), mas, uma vez chegado ao local, dá início a uma pesquisa cultural. Para apenas não “bronzear o idiota”, há a leitura. Mas há sobretudo a visita aos locais históricos, monumentos notáveis, museus diversos… É surpreendente observar como a curiosidade do veraneante é imediatamente excitada pelos traços do passado. Mesmo quando os conhecimentos do passado são pouco exactos acerca dos séculos e se misturam as personagens, a visita de um castelo ou de uma estação arqueológica faz parte da estadia. Os serviços de turismo sabem apoiar-se neste gosto pela história, insinuando-o mediante um espectáculo de luz e som ou de um museu pedagógico.

Pode dizer-se que o turista está habitado por uma nostalgia ou em todo o caso por um desejo de compreender o hoje através do passado. A viagem é quase sempre para ele uma peregrinação às fontes. Talvez porque na outra face da sua vida, a face do trabalho, é o amanhã que domina: a invenção, os projectos, os desafios. Então, no tempo livre, por contraste, concentra todo o seu interesse no ontem…

Os comerciantes de viagens sabem vender quilómetros e estadias justificando-os com alguns minutos num mosteiro ou numa igreja românica. Que sede misteriosa, que curiosidade mística, que procura espiritual se esconde por detrás disso? Pode falar-se de moda… pode prosaicamente sublinhar-se que os edifícios religiosos têm, frequentemente, entrada livre… Pode dizer-se que muitos dos visitantes não compreendem nada do sentido religioso das esculturas góticas ou dos espaços da arquitectura românica. E contudo …

Muito humildemente, a pequenina igreja da aldeia de que se não fala mesmo no Guia Verde [Michelin], se por sorte está aberta, recebe a visita do turista que aí pára. Senta-se por um instante, ouve o silêncio, goza a frescura, olha à esquerda e à direita, dá uma volta, talvez acenda uma vela, ou leia um ex-voto… Não, não se trata de uma visita ao Santíssimo Sacramento! Mas talvez de uma oração. Pensa no primo doente, no filho sem trabalho, nos amigos que se divorciaram… Não diz nada a ninguém. Nem diz que tem fé… Talvez, algures, um outro lugar teria produzido o mesmo movimento interior. Mas se aí o monumento na sua humildade fez sinal, se uma presença, um texto, uma imagem, uma tradição, um livro aberto propôs uma reflexão, uma chamada, uma interrogação, então a visita poderá ser uma etapa decisiva. Neste caso, foi um encontro consigo mesmo e, talvez, sem o saber, com o próprio Deus.

Por vezes, há o encontro com alguém, o sacristão que limpa as cadeiras, um desconhecido que reza, um padre que, por sorte, não se encontra muito apressado, e a aventura espiritual pode aprofundar-se. O convite para uma liturgia excepcional ou para um tempo de oração: eis o contacto retomado e um caminho que começa e que ninguém, à partida, poderá adivinhar as etapas que se seguem.

Este «turismo religioso» revela sem dúvida um dos segredos profundos de toda a viagem. Aquele que se movimenta anda em busca de alguma coisa: não lhe basta acumular sempre postais ilustrados ou boas refeições. Procura alguém no fundo de si mesmo. Não lhe digais demasiado depressa quem ou o quê, teria medo disso! Procura quem possa dar sentido a esta viagem, a esta aventura, a esta vida que se esvai. Esperemos que se familiarize um pouco com este desconhecido para lhe revelar o seu nome».

Secretariado Diocesano de Liturgia do Porto

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