«O Túmulo perdido»

A polémica sobre o alegado “túmulo” de Jesus conheceu novos episódios. Realizado pelo judeu canadiano Simcha Jacobovici, “O Túmulo perdido de Jesus” parte da análises de dez ossários encontrados em 1980, no Bairro de Talpiot, em Jerusalém, e que presentemente estão entregues à Autoridade de Antiguidades de Israel e guardados num armazém em Bet Shemesh. Os arqueólogos que estudaram as peças chegaram à conclusão, em 2003, de que o sarcófago data do século I d.C. No entanto, conteúdo, caligrafia e revestimento da inscrição tornam a sua autenticidade duvidosa. Um dos especialistas entrevistados por James Cameron e Simcha Jacobovici, Stephen Pfann, veio já desmentir que uma das inscrições, “Mariamne e Mara”, possa ser lida como “Maria, (conhecida como) a Mestre”. Segundo este paleógrafo da Universidade da Terra Santa, os autores do documentário teriam identificado mal o ossário em que afirmam estar Madalena. Para Pfann, a inscrição deve ser traduzida como “Maria e Marta”, contendo, por isso, restos mortais de duas mulheres. A primeira palavra, “Mariamne”, terá sido escrita no Grego da altura (séc. I) e a segunda e terceira palavras num estilo cursivo, por isso, mais tarde e por outro indivíduo. Cameron e Jacobovici identificam a presença de Madalena ao traduzirem a palavra “Mara” como sendo o termo aramaico para mestre. Para justificarem o facto do nome “Mariame” estar escrito em grego, os realizadores transformam a pequena localidade de Magdala, no Mar da Galileia, num “importante centro de comércio” em que se falava grego. Várias outras inscrições da altura atestam que “Mara” aparece como uma abreviatura de Marta. Este não é, contudo, o único túmulo de “Jesus”. Outro ossário, conservado nos armazéns da autoridade arqueológica israelita (n.º de catálogo 80503) tem a inscrição “Jesus, filho de José”. De facto, nos mais de mil ossários idênticos dessa época seis apresentam o nome “Jesus” e um outro (além deste primeiro) a frase “Jesus, filho de José”. Segundo o arqueólogo israelita Zvi Greenhut, 25% dos nomes femininos nestes ossários apresentam o nome “Maria” ou uma das suas variações e “José” é o segundo nome mais comum nesse período. Simcha Jacobovici já tinha provocado polémica em 2002, a partir de um ossário com a inscrição “Santiago, Filho de José, Irmão de Jesus”. A 18 de Junho de 2003, os 15 membros da Autoridade de Antiguidades de Israel demonstraram que a “descoberta” de Jacobovici era uma falsificação moderna. A SIC adquiriu os direitos exclusivos para Portugal do documentário de James Cameron “O túmulo perdido de Jesus” e vai exibi-lo no próximo Domingo, dia 15, depois do Jornal da Noite. Ciência e ficção Yossef Gat, arqueólogo dependente da Autoridade de Antiguidades de Israel, foi o responsável pela descoberta da câmara mortuária no sudeste de Jerusalém, em 1980. Ali encontrou um túmulo tipicamente judaico, que remontava ao tempo do Rei Herodes. Os arqueólogos constataram que o espaço principal tinha sido coberto com terra e detritos, escondendo seis “kokhim”, espaços onde os corpos permaneciam um ano ou o tempo necessário para a decomposição, segundo os ritos judaicos, antes de os parentes poderem recolher os ossos para guardá-los num ossário. Yossef Gat descobriu 10 ossários com inscrições em hebraico e grego antigo, uma das quais dizia ” Jeshua bar Joseph” (Jesus filho de José), outra “Mara” e outra “Yose” (forma comum de José). O interior da câmara mortuária esteve encerrado durante longos anos por causa da construção de um edifício precisamente por cima do espaço. Amos Kloner, braço direito de Gat, entretanto falecido, publicou os resultados da descoberta em 1996, na revista da Autoridade de Antiguidades de Israel. O arqueólogo considera que, de forma alguma, este túmulo de Jerusalém poderia ter sido a sepultura da Sagrada Família, natural da Galileia, ao longo de várias gerações.

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