O tesouro mais precioso, a palavra que nos une

No âmbito da exposição O Tesouro mais Precioso…A Bíblia na Vida de um Viajante Português do Século XVII. João Ferreira Annes D’Almeida, promovida pelo GIUP (Grupo Interconfessional Universitário do Porto) e pela Sociedade Bíblica de Portugal, decorreu na passada terça-feira, dia 13, na Torre da Marca, o primeiro dos três Diálogos com a Bíblia , subordinado ao tema A Palavra …que nos une. Intervieram o Pastor Abel Pego, da Igreja Baptista de Cedofeita, o Prof. Dr. Filipe Ferrão, da Comunidade Israelita do Porto, e o Prof. Dr. José Carlos Carvalho, da Universidade Católica Portuguesa, tendo cabido a moderação ao Pastor Eduardo Conde, Presidente da direcção da Sociedade Bíblica de Portugal. Como primeiro orador, o Pastor Abel Pego começou por apresentar um quadro breve, mas elucidativo, do papel central e fundamental que, desde o início, a Sagrada Escritura ocupou no seio das comunidades reformadas. Desde o tempo de Lutero e Calvino até à contemporaneidade, explicou a centralidade e o sentido muito prático que sempre ocupou e assumiu o conceito da sola scriptura, bem como o real empenho das igrejas evangélicas no sentido de transformarem os crentes em leitores e intérpretes activos dos textos bíblicos. Mesmo reconhecendo que este caminho podia, com facilidade, promover a divisão e mesmo o conflito entre vários grupos de fiéis, nem por isso deixava de considerar que o mesmo constituía um dos elementos mais característicos e estruturantes da fé evangélica, comum à generalidade das igrejas protestantes. Por último, a sua própria experiência pessoal serviu para ilustrar e comentar alguns dos problemas e dos desafios que a incontornável leitura e comentário da Bíblia coloca no seio das comunidades evangélicas actuais. Dando início à sua intervenção, o Prof. Dr. Filipe Ferrão expôs, de forma clara e pedagógica, os principais elementos que caracterizam o judaísmo, nomeadamente no que respeita ao lugar primordial ocupado pela Torah. Depois de sublinhar a relação umbilical que, desde os tempos mosaicos, se estabeleceu entre o povo hebraico e a Lei, explicou quanto essa relação se transformou em factor decisivo da sobrevivência dos judeus e do judaísmo ao longo de uma História especialmente atribulada. Recorrendo a muitas pequenas histórias, com sabor a parábolas e marcadas por um humor muito particular, apresentou, sem complexos e sem concessões, um quadro muito sugestivo da religião judaica na actualidade e da sempre problemática, mas apaixonante, relação com a Palavra e com o próprio Deus. Quer pelo conteúdo, quer pela forma como explicou conceitos e ideias e comentou práticas e tradições, provocou, junta da assistência, um vivo desejo de melhor conhecer o mundo, a cultura e a religiosidade dos “ irmãos mais velhos” do cristianismo. Coube ao derradeiro orador, Prof. Dr. José Carlos Carvalho, abordar a complexa problemática da Palavra enquanto manifestação privilegiada de Deus, na qual se inscreve a experiência que dela fizeram e fazem homens e mulheres de todos os tempos. Neste contexto, a Palavra assume, prioritariamente, duas faces: a primeira é o próprio desejo de auto-comunicação de Deus, a segunda é a humana. Resulta daqui que a fé cristã vive da relação com o livro e da referência à Palavra, que não esgotando a realidade do mistério de Deus (não, é o cristianismo, uma “religião do livro”) é dom essencial para a comunidade. Por isso – afirmou – “a importância da hermenêutica sacramental da escuta também desta palavra escrita” e por isso, também – continuou – o facto de a Bíblia não ser apenas um livro, mas Palavra de Deus que o Espírito assim faz, o mesmo Espírito que a inspirou e que inspira a sua hermenêutica. Pôde assim também aprofundar a relação entre Bíblia Hebraica e Novo Testamento, referir as raízes também bíblicas do nosso continente europeu, especificar esta como Palavra que fala (e não apenas diz) e abre a um sentido, nos une na celebração do tempo, na própria organização social e na ligação do leitor ao seu mistério e ao mistério de Deus. Alertou, por fim, para a importância de, no processo de interpretação, dar atenção a alguns riscos que enumerou e esclareceu: escolasticismo, culturalismo, moralismo, compartimentalismo e biblicismo. Com a presença de cerca de sete dezenas de pessoas o serão prolongou-se em animado, vivo e profundo diálogo que abre sinais de muita esperança para o caminho de diálogo ecuménico e inter-religioso que este Grupo Interconfessional Universitário do Porto (GIUP) se propõe empreender particularmente no seio do meio universitário (e que, pela Igreja Católica Romana, tem a participação da Pastoral Universitária). Os Diálogos prosseguiram com “A Palavra… que se recria”, na Faculdade de Belas Artes, e encerram com “A Palavra… traduzida”, na Quarta-feira, dia 21, às 18h00 no Anfiteatro 2 da Faculdade de Letras. A Exposição O tesouro mais precioso aberta todos os dias das 15h00 às 19h00 (na Casa da Torre da Marca) encerra no próximo Domingo, 25 com um momento musical às 17h00 a cargo da Igreja Metodista do Mirante. Na Faculdade de Letras a exposição “A Bíblia na Biblioteca” encerra no final do mês de Novembro. Pastoral Universitária / Porto

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