O Tempo da desesperança…

Luísa Gonçalves, Diocese do Funchal

Ela anda por aí. Assume várias formas e feitios, cores e tonalidades. O problema é que nunca ou quase nunca se fala dela. Temos medo de nos envolver, de dar de caras com a nossa própria desesperança.

Vem isto a propósito de mais uma vida que se perdeu. Uma jovem que, impedida uma primeira vez de por termo à sua passagem por este mundo, voltou ao local e concretizou aquilo que certamente para ela fazia mais sentido naquele momento.

Não vou entrar em pormenores, primeiro porque não conheço o caso a fundo, depois porque há uma família que sofre com a tragédia. Porém, há questões que sempre se levantam nestas ocasiões. Perguntas que sempre vamos colocar e que, na maior parte das vezes, vão continuar sem resposta.

A primeira, neste caso, é o que leva uma jovem, bonita, porque o era, a querer deixar o mundo desta forma. Já tinha problemas do foro psicológico? Estava a ser acompanhada/vigiada clínica e familiarmente. Os amigos mais próximos não se aperceberam de um sinal que pudesse ter evitado um fim tão trágico. E claro, ao sabermos que esta já era a segunda tentativa, questionamos a “alta” dos serviços de saúde, para onde a jovem foi levada.

Ninguém deu pela sua falta de esperança?

Há coisas que não se resolvem com chazinhos ou paninhos quentes. Mas temos medo. Medo de que o outro ache que estamos a invadir a sua privacidade, que estamos a ver coisas onde elas não existem. Medo!

E o medo faz com que tenhamos as atitudes de sempre, que não duvido sejam bem-intencionadas, mas que não resolvem nada. Primeiro porque a pessoa não recebe o ‘abanão’ de que precisa e continua no seu canto a achar que aquilo que vive e sente não tem solução.

Depois porque a própria pessoa entende que, receber sempre as mesmas respostas e conselhos é ‘bater no ceguinho’, e fecha-se ainda mais na sua concha.

Um erro que considero ainda maior e que todos nós, pelo menos uma vez já cometemos, é dizer, às vezes até com pouca convicção, que tudo vai ficar bem. Que tudo se vai resolver e que há que ter esperança, quando o que invadiu aquele ser humano foi precisamente a desesperança.

E a desesperança mata. A falta de esperança, infelizmente, é uma realidade cada vez mais frequente entre jovens e menos jovens. A desesperança é um estado emocional que rouba a perspetiva de futuro. Os números confirmam isso mesmo e confirmam que, cada vez mais, vivemos entre extremos.

Uma espécie de existência que deambula entre 8 e o 88. Que só reconhece o bom e o mau. A noite e o dia. O calor e o frio. A planície e o abismo. A sorte e o azar.

Não há cá meio-termo para apreciar uma flor, o canto de um pássaro, um pôr do sol, uma brisa que nos toca a face, um tempo para nos lembrarmos de Deus.

Tudo isto é difícil, dizemos! É verdade! Quem sou eu para questionar! Mas também é verdade que precisamos andar mais atentos à nossa saúde, especialmente mental, e à daqueles que nos rodeiam. Se os sinais, que os há, forem sendo ignorados, dificilmente conseguiremos viver no meio termo da vida.

Que neste mês de maio em particular Nossa Senhora de Fátima cubra com seu manto todos aqueles que, de alguma forma, acham que a sua vida não faz sentido.

Que Ela lhes dê a fé e a força de acreditar que o Seu filho não abandona ninguém, muito menos aqueles que verdadeiramente precisam da sua ajuda. E nos ajude a nós a perceber quando o sorriso esconde a dor.

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Agência ECCLESIA

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