Secretário-geral da Comissão dos Episcopados Católicos da União Europeia (COMECE), padre Patrick Daly, projeta desafios que se colocam ao projeto comunitária, antecipando as próximas eleições
Agência ECCLESIA (AE) – O sonho da União Europeia ainda existe ou está em perigo?
Padre Patrick Daly (PD) – O sonho continua, mas eu diria que o projeto enfrenta graves problemas, porque a crise que começou em 2008 foi muito dura e há uma perceção generalizada de que a liderança europeia não conduziu este processo e não promoveu soluções.
Há menor convicção de que uma rede europeia seja o remédio e muitos dos Estados-membros estão a regressar a uma abordagem mais nacionalista. É uma grande pena, mas o projeto continua, o sonho está lá – apesar de, é a minha convicção, as gerações mais novas, principalmente porque dão a paz como garantida, estarem habituados a níveis altos de prosperidade dentro da família europeia, sem entender os motivos por detrás da visão dos pais fundadores.
AE – Há uma cidadania europeia ou há mais nações e menos Europa?
PD – No ano passado, a Comissão elegeu para o seu principal tema ao longo do ano a cidadania e o significado de ser um cidadão da Europa. É um conceito recente e, na minha perspetiva, não se afirmou.
O retorno a nacionalismos é um caminho possível, mas eu penso que não coloca em risco o projeto europeu. Um desafio que vai sempre colocar-se na União Europeia é o facto de ser constituída por 28 Estados soberanos, com diversas tradições, leis e culinária, religião assim como tradições intelectuais. Sempre teremos este contraste entre unidade e diversidade. É isso que torna o desafio europeu particularmente assustador (tremendo?).
AE – Qual o contributo dos católicos e dos seus valores neste processo?
PD – Os católicos têm uma visão da sociedade humana e justa, a doutrina social da Igreja é muito rica. Mas o que é importante no contexto europeu, e no projeto europeu, são os dois valores fundadores, e que fazem com que funcione, copiados na doutrina social da Igreja: solidariedade e subsidiariedade. Aí se reconhece a diferença e percebemos que a diferença tem de continuar a ser proposta, mas também vai em sentido contrário ao da frase do Antigo Testamento, porque eu sou o guardião do meu irmão.
Penso que isso está enraizado na tradição cristã e é hoje partilhado por pessoas que não professam nenhuma convicção religiosa. Os valores católicos e cristãos estão na base da visão social do projeto europeu.
AE – Que conselho deixa aos católicos portugueses?
PD – No domingo vão à Missa e depois vão votar. Examinem criticamente os candidatos e usem a consciência quando fizerem a escolha.