José Luís Nunes Martins
Alguém distraído escorrega e, depois de tentar em vão equilibrar-se e evitar o inevitável, cai no chão sem se magoar. É algo que arranca pelo menos um sorriso à maior parte de nós. Pelo facto de não ter sentido nem valor.
Alguém que vê uma outra pessoa em risco e, sem olhar a consequências, se lança em seu socorro, acabando por se magoar de forma aparatosa. Aqui não há vontade de rir, nem de sorrir, porque o que aconteceu de negativo teve sentido e isso confere-lhe valor.
Um artista sacrifica vários meses da sua vida a produzir uma obra de arte porque ambiciona fazer uma grande venda, tornando-o rico e famoso. Outro artista produz, com o mesmo nível de sacrifício, a mesma obra de arte, mas a sua intenção é acrescentar mais beleza ao mundo, entregando o quadro a um museu em troca de entradas gratuitas para todas as pessoas desfavorecidas que o queiram visitar. O sofrimento deste artista faz mais sentido do que o do primeiro. Porque visa algo mais elevado do que o natural egoísmo.
Sofrer de forma absurda acrescenta dor à dor. Encontrar no sofrimento um meio para alcançar algo excelente dá-lhe sentido e valor.
Se eu viver a fugir ao sofrimento, talvez não chegue a viver um único dia de paz, muito por causa do medo que me impede de ser livre. Se eu for capaz de lutar pela felicidade, aceitando os sofrimentos que isso implica, então as dores terão sentido, e ainda que as feridas teimem em não sarar, eu serei digno de mim mesmo, porque lutei pelo melhor de mim, qualquer que seja o resultado que consiga.
Luta pelo melhor de ti sem medo de sofrer. Sofrerás as mesmas dores do que aqueles que as temem e delas passam a vida a fugir, mas as tuas terão sentido e valor. As deles serão a sua derrota, as tuas o preço a pagar pela vitória.