O Sínodo e o futuro

Octávio Carmo, Agência ECCLESIA

O Sínodo dos Bispos sobre a família chegou ao fim, após um processo de dois anos que envolveu centenas de milhares de pessoas desde que foram enviados os questionários às comunidades católicas, em 2013. O relatório final foi aprovado, ponto a ponto, depois de três semanas em que muitas vezes houve desinformação e mesmo calúnia no confronto mediático – algo que deixou o Papa visivelmente incomodado, como se viu no seu discurso conclusivo.

A ideia de que um processo tão longo, sobre um tema amplo e delicado, com várias sensibilidades – teológicas e geográficas -, poderia ser conduzido sem sobressaltos é pouco menos do que ingénua. Francisco tem vocação de líder, sem medo da confusão ou do imprevisível, mas nem todos somos capazes do mesmo e foi neste contexto que muitos se viram apanhados em contramão – não só entre os participantes, confesse-se.

Este Sínodo, nos seus novos moldes, teve vários méritos, a começar pelo facto de ter obrigado a Igreja Católica, no seu todo, a discutir a família, a aprender com outros contextos e a reafirmar os seus princípios fundamentais, procurando uma linguagem que os torne compreensíveis nos cinco continentes. A assembleia sinodal será hoje, talvez, uma experiência menos formal, mas a opinião dominante é que se trata de uma vivência mais rica, partilhada e desafiante. O lema ?falar com coragem e ouvir com humildade? que o Papa foi repetindo parece ser agora a marca da atividade desta reunião global de bispos – veremos quais serão as suas etapas seguintes.

É inegável que o debate sobre a família gerou tensões, potencialmente fraturantes, que parecem persistir nalguns temas. Resta saber como se comportarão as comunidades católicas no acolhimento das propostas sinodais e se estas vão mesmo ser analisadas à luz do que está escrito e da reflexão que foi feita – mais do que debatendo o mérito desta ou aquela figura, deste ou daquele grupo linguístico.

Um sinal particularmente inquietante destes dias foi o regresso do jornalismo ?vatileaks?, feito na lama e sem preocupações de verdade, ao serviço de interesses particulares e numa subserviência cega às ?fontes?. Para já, os mentores da mais recente polémica não me parecem particularmente brilhantes: se a ideia era fragilizar a imagem de Francisco, com a invenção de uma doença grave, estou certo de que só conseguiram tornar o Papa ainda mais forte.

Octávio Carmo

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