Jorge Teixeira da Cunha, diocese do Porto
Vai ter lugar a anunciada Jornada Mundial da Juventude no nosso país, a culminar em Lisboa, com a presença o Papa Francisco, nos primeiros dias do próximo Agosto. É uma iniciativa que se vem repetindo desde os tempos do Papa João Paulo II e já passou por todos os continentes. Foi um acto de coragem por parte por parte dos bispos portugueses, e das nossas autoridades, dar hospitalidade a esse evento de logística muito complexa e trabalhosa. Tudo se encaminha para que seja um sucesso, com a boa colaboração de todos e o esforço de quem coordena. Um evento como este suscita algumas reflexões de ordem pastoral. É isso que propomos aqui.
É sabido como a sensibilidade das pessoas de hoje, sobretudo dos jovens, privilegia nas suas preferências a participação em eventos de curta duração, mas que proporcionem experiências intensas a nível estético e sensorial. Uma jornada como a JMJ deve o seu sucesso a essa sensibilidade. O mesmo se passa com os concertos dos artistas de música popular que que conhecem um sucesso sem precedentes. Reparem que se trata de uma comparação vista pelo lado do receptor de cultura de hoje. Não fica mal à nossa reflexão pastoral aprender com essas técnicas, antes pelo contrário. A disponibilidade dos jovens de hoje para esse modo de vivência deve ser aproveitada pela Igreja. É uma forma de iniciar à vivência espiritual da fé, no tempo do predomínio da estética. Estamos num tempo diferente em que a formação lenta e demorada dos ritmos da fé encontra dificuldade. O mesmo se diga das formas de militância pela realização de valores, que era o método da acção católica do passado. Hoje, pelo contrário, temos de dar a viver de forma rápida e intensa a experiência cristã, segundo ritmos não hebdomadários, como é a nossa tradição de prática dominical.
É, porém, necessário estarmos sensibilizados e prevenidos para as diferenças na apreensão dos conteúdos da fé por parte das multidões que acorrem a estas jornadas que dão a volta ao mundo. Os jovens que tomam parte nestes eventos não são da era da palavra e da doutrina, como no passado. O seu conhecimento da fé não assenta na lógica nem no conteúdo teórico do cristianismo. A nosso ver é outra coisa. E uma experiência espiritual autêntica, mesmo assim, mas diferente do passado. A forma de pertença à comunidade cristã não tem dimensão administrativa nem vinculação expressa numa configuração da vida de forma estável. O mesmo se diga das formas de apreensão dos valores e normas morais. Aventuramos a dizer que uma grande percentagem dos jovens que tomam parte na JMJ, e batem palmas ao discurso do Papa Francisco, vive criticamente em desacordo com as normas morais do Catecismo da Igreja Católica. Estão neste caso as normas de moral sexual, as normas sobre o casamento e o divórcio, sobre a fecundidade, sobre o fim da vida, sobre o governo da Igreja. Isso é um grande desafio para a pastoral do futuro próximo que vai necessitar de muita reflexão e de algumas reformas que exigem muita sabedoria e muita coragem, para não deixarmos na desilusão as multidões que se sentem atraídas pela pessoa de Jesus Cristo.
Não obstante, a esforço da Igreja e da comunidade política não deixa de ser altamente meritório. É uma forma muito eficaz da presença pública do Evangelho, ampliada pelo trabalho dos meios de comunicação. Muitos comentadores darão espaço ao evento, amplificando a sua repercussão. É uma grande oportunidade para os pastores ouviram as vozes de fora e avaliarem o efeito conseguido e não conseguido do seu esforço de ensino e de pregação.
As nossas autoridades políticas têm tido uma boa vontade para colaborarem no evento da JMJ que é, a nosso ver, muito digno de nota. É justo assinalar que a qualidade da nossa vida pública e política e a maturidade democrática das nossas instituições.
Aqui fica o desejo de que a JMJ seja um sucesso, que saibamos tirar as lições que um evento que não se repetirá nas nossas vidas, pelo menos dos mais velhos, e que com grandeza de alma saibamos reconhecer o mérito a quem o tem nesta organização que nos honra a todos.