D. António Luciano, Bispo de Viseu
“Num tempo de indiferença, o presépio é um símbolo vivo de paz e humanidade”, como refere Guilherme D´Oliveira Martins.
O cântico celeste dos Anjos acordou a humanidade adormecida: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amado”. A luz brilhou no meio da noite e fez-se dia de Natal.
Despertemos da sonolência e entorpecimento da vida e deixemo-nos iluminar pela luz, que brilhou na noite santíssima de Belém, deixemos que a estrela nos conduza ao presépio e apressemo-nos como os pastores a adorar o Verbo Encarnado, que habita no meio de nós.
A caminhada de Advento terminou. Depois de grande peregrinação desde a Galileia até à Judeia, chegaram a Belém a Virgem Maria e São José e não tendo lugar na hospedaria recolheram-se numa gruta com animais, onde nasceu o Salvador do mundo. Diante do Menino, que acabava de nascer, adoraram-no todos os povos e, à semelhança dos pastores, entregaram-lhe os seus presentes.
O encontro com Jesus no presépio é o significado mais profundo do verdadeiro Natal. Contemplar no presépio o “Príncipe da Paz”, é aprender a viver a vida com esperança num horizonte novo, marcado por uma espiritualidade encarnada na vida de “comunhão, participação e missão”. Deixemo-nos tocar, iluminar por sentimentos de ternura e de bondade, por gestos de acolhimento, de amabilidade, de fraternidade, de solidariedade e de paz que brotam do encontro com Jesus e com os homens.
A luz começou a despontar na gruta de Belém e surgiu um novo dia. O “dies natalis”, dia de nascimento do Filho de Deus que se manifestou no meio de nós. A mensagem anunciada pelos profetas e semeada no coração de tantas gerações, ao longo da história da humanidade, irrompeu, na luz da esperança e na contemplação do rebento do tronco de Jessé, que se manifestou no dom da vida de uma criança.
A abertura à vida é um hino de louvor ao Criador e fortalece os pilares da fé, da esperança e da caridade, sustentando o mistério trinitário revelado no Menino, que nasceu na noite santa de Belém, a quem foi dado o nome de Jesus.
A história da salvação divina aproximou-se da humanidade e a mensagem cristã leva todos os batizados a procurar a Sabedoria infinita, que quis “armar a sua tenda entre nós” e passar a viver na humanidade.
Na vida, que é um dom de Deus, há sempre um segredo que não se pode ignorar: o saber esperar com paciência o Messias, que acaba de chegar e está próximo de nós em cada dia.
Na gruta de Belém, a Virgem Maria e São José esperaram com fé e com esperança a vinda do Salvador, dom inefável do amor misericordioso do Pai. O mistério que estava escondido manifesta-se em cada dia, em cada tempo e momento da história da humanidade e oferece-se a todos na revelação do mistério da “Encarnação do Verbo, que se fez carne e habitou entre nós”.
Contemplar o presépio é o grande sinal de esperança, para construir um mundo mais humano, justo e fraterno. Diante de um cenário global envolvido em guerras, violências, fome, marginalização e pobreza, em tantas partes do mundo, é preciso fazer renascer a esperança e construir a paz, a alegria, o desenvolvimento, o progresso e a solidariedade. É preciso abrir o coração à sabedoria da esperança anunciada pelos profetas e ajudar o outro a encontrar Jesus e a encontrar-se a si próprio.
A revelação do mistério do Natal de Jesus aconteceu numa noite fria, iluminada pelas estrelas, nos arredores de Belém, num lugar sem teto e de portas abertas, como deve ser a Igreja, um apelo feito tantas vezes pelo Papa Francisco.
Na contemplação do presépio encontramos todos a vida em abundância anunciada por Jesus e a alegria fraterna para servir os irmãos com as palavras e os gestos de Maria e José.
É preciso voltar de novo ao presépio na oração, na contemplação e na missão para acompanhar todos os que andam à procura de Jesus, de modo a devolver ao mundo de hoje o verdadeiro sentido do Natal.
A sociedade continua a esperar, com paciência, a vinda do Salvador, embora viva distraída na indiferença, mergulhada no individualismo e na solidão onde o ateísmo e o agnosticismo caracterizam a vida de muitas pessoas.
A materialização do Natal, através de toda a sua envolvência, desafia as pessoas a darem um sentido novo e humanizante aos presentes de Natal. A fé e a esperança são o melhor presente de Natal que Jesus nos dá.
O contraste do Natal provocado pelo consumo, a magia da música e das luzes ainda não foi capaz de transformar a indiferença, a solidão, a guerra, o desemprego, o sofrimento e a perda de sentido da vida em sinais de verdadeira fraternidade e solidariedade.
As respostas cristãs do Natal brotam da sabedoria do coração e assentam nos valores do acolhimento, amabilidade, fraternidade e solidariedade com todos e para todos, principalmente os pobres e os doentes. Tantos grupos organizados e tantas experiências de voluntários, de empresas e movimentos, que nesta quadra natalícia se organizam e fazem da solidariedade uma festa.
O Natal precisa de ir mais longe, atravessar fronteiras, ter gestos novos e fazer de eventos grandes processos importantes que transformem a vida das pessoas.
Como me dizia uma criança, num destes encontros festivos de Natal, as prendas são nos dadas por Jesus em forma de amor e carinho pelos pais, mas como são tantas para distribuir, Jesus pediu ao Pai Natal para fazer esse serviço de entrega, sem esquecer ninguém.
Pensemos em todos os profissionais que se encontram de serviço neste Natal médicos, enfermeiros, bombeiros, forças de segurança, proteção civil e outros que asseguram os serviços públicos. Rezemos ao Menino Jesus, à Virgem Maria e a São José pela santificação das famílias, pela Igreja, pela paz no mundo, por todos os cuidadores, sem esquecer todos aqueles que são cuidados.
Neste Natal, façamos uma verdadeira catequese uns aos outros explicando às crianças, adolescentes, jovens e adultos o verdadeiro sentido do Natal de Jesus.
Desejo a todos umas santas festas de Natal na autenticidade e na simplicidade do presépio, tornando a estrela a luz que vos conduz a um próspero e feliz Ano Novo de 2025. Com Jesus, Maria e José, vamos dar início ao Ano Santo Jubilar como “peregrinos de esperança”.
+ António Luciano, Bispo de Viseu