José Luís Nunes Martins
Deus quer que eu seja livre e escolha bem, que escolha o bem. Deus não me impõe um projeto de vida que devo cumprir sob pena de ser infeliz. Antes propõe-me um caminho, aponta uma direção que faz sentido na minha existência, mas que só tem valor se eu decidir segui-la de forma livre.
Deus quer que cada um de nós seja feliz e as alegrias mais profundas são as que brotam do amor: a do dar-se e a do perdoar.
O que faz Deus connosco? Ama-nos e perdoa-nos. Mesmo quando não fazemos o mesmo com os outros e com Ele. Porque o seu amor é extraordinário.
Hoje dá-se o nome de amor a muitas coisas que não têm relação nenhuma com o verdadeiro amor. Até ao egoísmo, que é o oposto do amor, hoje se dá o estranho nome de amor-próprio!
É comum pensar que devemos amar quem nos ama. Gostar de quem gosta de nós. Mas que grande amor é esse de gostar de quem gosta de nós? É quase um preço, uma compensação, um negócio. Mais parece um simples contrato de troca de egoísmos.
O amor verdadeiro é extraordinário e diferente, também porque não se faz depender do que por nós sente o outro, mas do que ele precisa, do que lhe faz falta para ser melhor. Por isso, procura os mais afastados, aqueles que andam mais longe do amor. Vai ao seu encontro, valorizando a simples presença do outro como algo bom.
Deus faz isso mesmo connosco. Ama-nos sem que nós o amemos, ama-nos e perdoa-nos, mesmo quando nós não acreditamos Nele, mesmo quando julgamos que podemos viver muito bem sem Ele. Eis a razão pela qual o amor de Deus é superior.
Mas o que Deus quer de cada um de nós é que amemos os outros assim! Buscando os mais necessitados e amando-os, mesmo que não nos amem… talvez porque ou nunca foram amados assim, pelo que são, ou porque sofreram mais do que podemos imaginar e a desilusão os afastou da esperança.
Todos sofremos e não há duas dores iguais. Mas há algo que é uma constante: se formos capazes de manter uma esperança forte, então teremos mais ânimo do que dor.
Há quem seja derrotado por dores menores e há quem sorria apesar daquilo que lhe dói ser capaz de fazer desistir a maior parte de nós. Onde está a diferença? Na esperança que resulta da fé. No amor de que se é capaz, na forma como se vê o que se passa e o que nos ultrapassa. Amar o que nos rodeia e o que há de vir.
Deus quer que eu saiba que posso e devo ser melhor, para ser mais feliz.
Deus não depende de mim, mas, pelo seu amor, faz-se dependente! Sofre e está comigo, mesmo quando eu me julgo sozinho e abandonado, que é quase sempre.
A alegria verdadeira não se encontra em nenhum mercado de interesses, resulta do que cada um de nós for capaz de dar. Se formos melhores, daremos mais e melhor!
Quantas vezes já nos amaram sem que nós o merecêssemos? Quantas vezes já nos perdoaram sem qualquer ressentimento, apenas com amor, aceitando-nos como somos, mesmo com todas as nossas fraquezas? Isso fez diferença em nós?
Então, a missão é simples: faz o mesmo. Amar quem não merece, perdoar sem ressentimento e aceitar o outro como ele é. Isto pode fazer grandes milagres.
Perdoar é um dom do amor. Perdoar é um dar superior, extraordinário.
Quem é amado é perdoado. Basta que aceite o amor e o perdão. Quem assim se deixar amar aprende a amar e a perdoar!
Claro que nada é garantido e muitas vezes seremos atacados com olhares, palavras e gestos dilacerantes. No íntimo dessas pessoas seremos acusados de agir por outros motivos e julgar-nos-ão como sendo apenas egoístas iguais aos outros, mas com uma forma diferente e estranha de alimentar o nosso íntimo maldoso.
Deus quer que eu reze e aí encontre, longe das preocupações superficiais de cada dia, um lugar mais profundo onde posso repousar e ter paz. É no mais fundo de mim que encontro a passagem para o que na vida há de mais elevado no céu.
Não sei quase nada de Deus, tão-pouco consigo compreender o mundo. Sei pouco de mim, mas sei o suficiente para escolher o caminho que quero seguir: é impossível ser feliz sem amor.
Sou amado e sou chamado a amar.