O que falta à Páscoa de Jesus Cristo

Homilia do Domingo de Páscoa do Bispo de Viseu Domingo da Ressurreição O que falta à Páscoa de Jesus Cristo Estamos a celebrar o Acontecimento central do Ano Litúrgico, a Ressurreição de Jesus, a Festa das Festas, início de transformação de todo o homem, com a oferta de um novo projecto de vida e de felicidade, início de transformação de toda a criação e, mesmo, de toda a natureza e de todo o cosmos. Olhando a realidade actual, de uma sociedade confusa nos valores da vida, aos mais diversos níveis: da cultura, da educação, da economia, do desporto, da política, das relações internacionais, da emigração e acolhimento das diferenças, da própria relação com a natureza; de uma sociedade confusa nos valores transcendentes e tão descrente num futuro melhor, de autêntica salvação integral, tão longe dos valores do Reino e da humanidade nova que Jesus Cristo anunciou e quis constituir, deveremos perguntar-nos: o que falta, hoje, à Páscoa de Cristo? O que falta para que a Ressurreição de Jesus possa renovar e transformar todo o universo? 1. Como aos discípulos que, desolados, deixaram a alegria e a coragem das origens e foram para os vários Emaús da desilusão, faltar-nos-á saber, com exactidão, o que aconteceu em toda a Judeia… Faltar-nos-á deixar que a Palavra de Deus nos aqueça, quando a ouvimos na Eucaristia ou a lemos na intimidade da nossa oração e da nossa escuta e do seguimento pessoal do Verbo de Deus… Faltar-nos-á tornarmo-nos Seus discípulos, deixando-nos ensinar por Ele, como os discípulos de Emaús, para que O sintamos a caminhar connosco… Faltar-nos-á, talvez, a certeza da fé para vivermos e anunciarmos com a alegria e a confiança de quem se abandona na afirmação do kerigma: Aquele Jesus, a Quem vós matastes, Deus ressuscitou-O; Ele está vivo e nós somos testemunhas deste facto… Faltar-nos-á, como nos diz S. Paulo, na 2ª leitura, aspirarmos e afeiçoarmo-nos às coisas do alto, tomando consciência de que morremos para o pecado, para as trevas e para a morte e ressuscitámos para uma vida nova… Faltar-nos-á levar para a nossa vida concreta de cada dia, as consequências da Páscoa, vividas, cada Domingo, na Eucaristia… Faltar-nos-á, porventura, estarmos atentos aos outros, num serviço de lava-pés, partilhando com eles o partir do pão e tornando-nos “pão repartido para a vida do mundo”… Se estas falhas forem ultrapassadas e se a Ressurreição de Jesus nos transformar, a partir do coração e da consciência, todas as nossas palavras, atitudes e acções levarão a marca do Ressuscitado e deixarão a marca da vida nova em todas as pessoas e realidades que tocarmos ou com as quais estivermos em contacto. 2. Não podemos viver na ignorância, na confusão, na incerteza ou na indiferença, como se Jesus não tivesse ressuscitado porque, dessa forma, é inútil a nossa fé, continuamos no nosso pecado e a verdade não está em nós… Se duvidamos, temos oportunidade de O reconhecer, cada Domingo, ao partir o pão… Se acreditamos, têm que existir consequências, visíveis e comprováveis, a partir do nosso testemunho, das nossas palavras e, sobretudo, a partir das nossas acções e do nosso comportamento. E aqui está um óptimo campo de análise e de avaliação para a minha vida pessoal e profissional, para a minha vida familiar e para a minha vida eclesial e comunitária: quem sou eu? Como olho e penso a minha vida? Que estou disposto a mudar e a fazer para ser feliz numa relação de felicidade com Deus, com os outros e com a vida? Até onde estou disposto a perdoar para acolher quem se sente mal comigo? Não há dúvidas de que, com a Ressurreição de Jesus, Deus Pai mostra que pode e quer salvar os homens e vencer a dor do mundo, dando origem a um mundo novo, com homens novos, a habitar uma nova terra e chamados a novos Céus. A Páscoa de Jesus é também a nossa Páscoa – a Páscoa da humanidade inteira e, mesmo, a Páscoa de toda a criação. A Páscoa de Jesus integra no Seu projecto de novidade todas as criaturas. É a Festa da Nova Criação. É o Dia, novo e definitivo, o Dia que o Senhor fez, que nos alegra e nos faz rejubilar. Conta, para isso, connosco. Conta connosco para que os frutos e os dons da Páscoa – paz, alegria, amor, reconciliação e, sobretudo, o Espírito Santo – tenham sequência e atinjam todas as criaturas. Ao pensarmos que a Ressurreição de Jesus já está em nós e já nos atingiu a partir de dentro, que nos impede de semear a ressurreição? Porquê não nos habituarmos a viver já como novas criaturas e a aspirar já às coisas do alto? Porquê não sermos agentes de transfiguração e de renovação de todas as criaturas? 3. Se a noite da Solene Vigília Pascal nos convidou a gritar: Porquê procurar aqui? Isto é, porquê continuar a procurar a esperança, o sentido para a vida e a felicidade, onde já comprovámos que não se encontram, porque não estão lá!… a celebração deste Domingo da Ressurreição diz-nos e grita-nos que precisamos de reconstruir tudo de novo, revestindo-nos da veste nova do Ressuscitado. Somos convidados a observar bem o túmulo – tantos túmulos vazios – e fixarmos bem as marcas da ressurreição e do ressuscitado, tornando-nos, nós próprios, os Seus pés, as Suas mãos, a Sua boca, os Seus olhos, o Seu coração… de modo a levarmos a Sua Salvação a todos os corações, para O tornarmos próximo e Amigo de quantos ainda O não conhecem… Não procuremos mais entre os mortos Aquele que está vivo. Falemos de Quem está vivo e de Quem é o Deus e Senhor da Vida e de tudo aquilo que é reconstrução de vida nova neste nosso mundo… Ainda que, como as palavras das mulheres que foram ao sepulcro, as nossas palavras, comportamentos e atitudes pareçam desvario, não nos deixemos corromper, como os guardas do túmulo, continuando a guardar e a investigar túmulos vazios e vidas apodrecidas. Reconstruindo o nosso coração, refazendo pontas que, talvez, tenhamos desligadas na nossa vida pessoal, familiar, social e eclesial, seremos novas criaturas e manifestaremos, em nós, a força de uma vida nova, assente na esperança da ressurreição. Maria, Senhora do Altar Mor, Mãe de Jesus Ressuscitado! Nós queremos percorrer contigo os caminhos da fé e queremos, com a nossa cruz, reconhecer, sempre, que Ele está vivo e, como Tu, ó Mãe, queremos estar e caminhar de pé, para ouvir de Jesus que era necessário sofrer todas as dores do caminho para chegar à Vida e à luz da Ressurreição. Dá-nos a coragem para olharmos o Alto e nos afeiçoarmos a tudo o que nos vem da boca do Pai, através do Verbo de Deus, pelo Espírito Santo. AMEN! ALELUIA! ALELUIA!

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top