O Pastor John

Jorge Pires Ferreira, Diocese de Aveiro

No rescaldo da semana ecuménica, gostava de apresentar o Pastor John.

A semana ecuménica, como a vivemos, é quase só o momento de oração em comum com outras confissões cristãs. Já não é mau. A par da oração vêm mais umas coisitas: o conhecimento mútuo e o convívio, que são capazes de ser o princípio de qualquer unidade. Infelizmente, o ecumenismo está atualmente limitado a umas formalidades que, se Deus não escrever direito por linhas tortas, não levam a lado nenhum. Claro que voltar atrás seria pior.

O Pastor John prega nas redes sociais (@jjohnglobal), em inglês. Não sei como o conheci, mas abençoado seja o algoritmo que o pôs no meu telemóvel. Prega todos os dias, ora com uma história, ora com uma conversa, ora com uma citação bíblica ou um sermão de um minuto. Gosto especialmente das histórias e partilho uma que dele ouvi. Reconto-a como ficou na minha memória. Se a reouvir, talvez algo seja diferente. Dêem-me o desconto.

Um dia, um missionário regressa à Escócia natal, depois de uma temporada em África (isto passa-se no séc. XIX), e faz uma pregação na sua comunidade. Apela à partida para África. Sabe que os que o ouvem, já velhos, não vão deixar as suas casas, mas deixa o apelo: “Quem há de ir? Quem há de ir?” Levanta-se uma criança, que estava de serviço aos foles do órgão, e diz: “Eu vou”. Era David Livingstone. Estudou Medicina e Teologia e partiu para África, sendo hoje conhecido como grande explorador. Mas era missionário. E, numa das suas missões, tentou evangelizar uma certa tribo. A tribo recusou o contacto dos cristãos. O chefe da tribo disse mesmo: “Um destes dias vamos dar cabo de vocês”. O tempo passa e nada acontece. Ou melhor, a tribo acaba por se converter ao cristianismo. E Livingstone pergunta ao chefe: “Então, o que aconteceu? Disse que ia dar cabo de nós…” O chefe responde: “E foi o que fizemos. Um certo dia, fomos ao vosso acampamento, de noite, para vos matar, mas o acampamento estava guardado por 39 gigantes. E voltámos para trás”.

Muito mais tarde, Livingstone regressa à Escócia e conta o sucedido na sua comunidade. O secretário da paróquia pergunta: “Em que dia foi isso?” Livingstone aponta uma data. O secretário ausenta-se e reaparece com o diário da paróquia: “Cá está. Nesse dia, 39 pessoas estavam a rezar por vocês na nossa igreja”.

O Pastor John diz que confirmou ele próprio a história. E é este o poder das boas histórias. Fazem-nos acreditar na capacidade de coisas tão acessíveis, tão preciosas e por vezes tão negligenciadas como a oração.

Além das histórias que o pastor conta, e que são perfeitamente católicas nos seus valores, tanto quanto vi, há mais um aspeto interessante que ele deixa entrever nas suas comunicações e que sintetizo numa expressão: novas organizações em função da missão. Ou empresas de evangelização, ou sociedades evangelizadoras, tal como temos as sociedades desportivas. Ele refere que tem dezenas de colaboradores, que ajudou um amigo a criar uma empresa como a dele e nota-se que prega de terra em terra com uma organização altamente profissional. Aquelo tipo de organizações é capaz de ser muito comum na tradição evangélica americana, mas não as imaginava no Reino Unido. E questiono se não será de assumir também em regiões de antiga maioria católica, como é a nossa. De certeza que seria muito difícil de implantar, porque ainda estamos muito apegados à paróquia-quintal, mas se tantas dioceses estudam novas formas de organização pastoral, talvez fosse bom ouvir os protestantes. E podíamos praticar o ecumenismo fora da terceira semana de janeiro.

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