O papel das religiões na paz mundial

Conferência do Cardeal Saraiva Martins «As religiões não podem desempenhar eficazmente o seu papel em favor da paz se não se encontram em paz entre elas e se não existem relações de diálogo, inspiradas no respeito e na confiança» O papel das religiões na paz mundial é o mote da reflexão que o Cardeal Saraiva Martins, por ocasião da celebração das bodas de ouro do seu sacerdócio, e aceitando um convite da Universidade Católica do Porto, dirigiu aos estudantes de teologia e aos participantes no encontro. O Cardeal começa por lembrar a actualidade da paz, pois “todos os dias, notícias de conflitos e acontecimentos de violência e morte ocupam os jornais, desafiando fortemente a consciência dos homens e mulheres de hoje e provocando numerosos e significativos gestos em favor da paz”. “Como poderemos não interrogar-nos acerca do papel das religiões para promover a paz e como não interpelar aqueles que enquanto testemunhas de Deus, deveriam ser também testemunhas do amor?”, indaga o Cardeal Saraiva Martins. A relação entre as religiões e a paz no mundo tem marcado toda a história humana. Mas no contexto actual, “ganha contornos a nível cultural, económico e político”. Na reflexão o Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos recorda a situação dos pobres, a implicação mundial das nações nos problemas relativos à paz, a amplitude da eliminação de povos e raças provocada pela guerra e o fabrico crescente de armas sofisticadas” como ameaça à destruição total da humanidade. O contributo das religiões para a paz mundial é “complexo e problemático do ponto de vista histórico”. As religiões são objecto de “desprezo e aviltamento” e há ainda religiões que “devido a uma errada interpretação e aplicação do ser «credo». originam descriminações, lutas e guerra”, relembrando o passado do Cristianismo e os acontecimentos ligados “a alguma cruzada, inquisição e às «guerras de religião». No entanto, “a Igreja Católica interveio com frequência, e sempre com maior vigor, em favor da paz”. E exemplifica, recordando a Carta encíclica «Pacem in terris», as intervenções do Concílio Vaticano II sobre a obrigação de todos os crentes de «promover a unidade e a caridade entre todos os homens, a Comissão Pontifícia «Justiça e Paz», a instituição do Dia Mundial da paz e as mensagens papais que acompanham esse dia. De João Paulo II “recordamos vários episódios”, aponta. Do actual Papa Bento XVI, “destaco as suas mensagens para o Dia Mundial da Paz, de 2006 e 2007 e os gestos e discursos do papa na sua viagem apostólica à Turquia”. O Cardeal Saraiva Martins recorda algumas violações “gritantes de paz nos dias de hoje”: o fenómeno do relativismo, a tensão entre uma correcta laicidade na vida civil e um laicismo radical, a ausência de convergência acerca do reconhecimento do valor cultural das raízes cristãs da Europa, as vítimas do comunismo da Rússia e noutras nações, a guerra na ex-Jugoslávia, no Médio Oriente, em África, a corrida ilimitada aos armamentos, a proliferação nuclear, citando apenas alguns. Na sua reflexão, o Cardeal Saraiva Martins afirma que “a Igreja está vocacionada a estar presente no mundo como força-fermento”. E acrescenta que a Igreja hoje está teologicamente melhor preparada para contribuir para a paz “devido à nova visão teológica acerca das religiões não cristãs e do diálogo inter religioso”. A dignidade da pessoa humana tem por base o diálogo com “todas as religiões, ultrapassando todos os estereótipos, todos os preconceitos e intolerâncias do passado”, afirma. Por isso, o Cardeal Saraiva Martins aponta algumas indicações práticas. “As religiões não podem desempenhar eficazmente o seu papel em favor da paz se não se encontram em paz entre elas e se não existem relações de diálogo, inspiradas no respeito e na confiança”. “A plenitude da paz alcança-se quando se respeita o homem todo”, sendo que a paz não é divisível do próprio homem. Os direitos e deveres fundamentais do homem “devem promover e respeitar todos tanto a nível local, como nacional ou internacional, promovendo deste modo a paz”. A Igreja deve excluir e denunciar qualquer forma de guerra santa, pois “não se pode matar em nome de Deus, nem impor uma fé religiosa com violência. Deus é amor”, sublinha o Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos. Contribuir para a paz é “um dever de todas as religiões, cristãs e não cristãs. As religiões contradiriam a sua própria natureza, se não se empenhassem por construir a paz”. O Cardeal saraiva Martins finaliza a reflexão com o Decálogo das religiões para a paz, “princípios fundamentais que se deveria seguir”: rezar pela paz; empenhar-se em favor da paz “denunciando toda a violência”; promover uma educação para a paz; “preparar os homens e mulheres para amarem e defenderem a paz, sacrificando-se por ela”; basear a paz na “liberdade, na verdade, na justiça e no amor; iluminar as pessoas e as suas consciências; promover uma cultura de diálogo; ultrapassar a interpretação “negativa da paz como a simples ausência de violência”, sintetiza.

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Agência ECCLESIA

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