Octávio Carmo, Agência ECCLESIA
Há algumas preocupações centrais que o Papa leva consigo a todo o mundo – misericórdia, anúncio, globalização da indiferença, diálogo entre gerações -, mas o que mais o distingue é a capacidade de falar para as pessoas que tem diante de si. Francisco não discursa em abstrato, procura interpelar a realidade que tem diante de si, e isso gera-lhe um reconhecimento quase imediato na maioria dos casos.
Uma das imagens que fica da viagem ao Peru é esse reconhecimento, no encontro com milhares de representantes dos povos amazónicos da Bolívia, Brasil e Peru, em Puerto Maldonado, onde o Papa recebeu uma ‘tawa’, símbolo awajún que é usado apenas pelos sábios. Foram bem audíveis os gritos de ‘Papa amazónico’, em homenagem a Francisco, que convocou um Sínodo especial para a região, em 2019.
A viagem ao Peru ficará registada, por certo, como uma das mais impressionantes do pontificado, pela diversidade de paisagens e realidades sociais, da Amazónia ao Pacífico, pelas multidões que nunca se cansaram de acompanhar Francisco e pelo reconhecimento do pontífice à identidade católica que o povo peruano soube criar. Uma Igreja com rosto próprio e que tem muito a ensinar, depois de séculos em que foi vista como mera destinatária da ação evangelizadora.