José Luís Nunes Martins
Talvez mais do que da natureza, o outono acontece em nós. Todos envelhecemos à mesma velocidade. A vida corre no nosso interior, acumulando memórias e parecendo tão veloz que há quem tenha medo de viver, tomado por uma vertigem e pelo temor do fim.
O tempo alarga os nossos troncos e ramos, mas o outono é a estação na qual nos despimos de alguma vaidade e do que é passageiro. E o que fica é, talvez, o mais importante. A pouco e pouco, através da alternância das estações e também em virtude das adversidades que temos de enfrentar, vamo-nos fortalecendo.
Uma árvore ergue aos céus o que recolhe no fundo da terra. Também cada um de nós é chamado a fazer o mesmo. Criar beleza e riqueza a partir do nada. Mas com tempos em que nos devemos recolher, refletir, antes de chegarem os invernos… a partir dos quais nasceremos uma vez mais e mais fortes.
Todas as estações têm um sentido próprio.
A melancolia que nos fende a alma e escava o coração faz com que a água das chuvas chegue ao fundo de nós. Estamos mais expostos e sensíveis. É tempo de trabalhar em nós, mais do que no mundo.
Depois de amadurecer… é tempo de renascer. O vento e o tempo passam sempre, mas nós ficamos. Também sempre.
A certeza de que as folhas caem é a mesma de que brotarão outras novas depois de um tempo de descanso. As que estão no chão dançam com o vento, enquanto as que hão de nascer ainda não sonham sequer que o mundo existe.
O outono é o tempo mágico no qual tudo começa a recomeçar!
Como se escutássemos uma sinfonia que atinge o auge. Segue-se um silêncio lindíssimo, no qual se hão de começar a ouvir os primeiros ensaios de outra sinfonia, tão ou mais bela que a anterior.
O outono é esse sossego sublime entre sinfonias.