«O Natal cristão que sonho, me proponho e vos desejo»

Mensagem de Natal do bispo de Vila Real, D. Amândio Tomás

Caros Diocesanos: Venho desejar-vos o Feliz Natal da vinda de Jesus, o Filho de Deus, que nasceu de Maria, cuja celebração o Advento, início do ano litúrgico, prepara. Peço que espereis e celebreis a vinda de Jesus e não o culto do dinheiro, o narcisismo e a escravidão, porque é Cristo, que devemos celebrar e não o egoísmo, os ídolos e as bugigangas, que distorcem a Vinda do Filho de Deus, que se privou da glória e nos veio dar a vida. Celebramos o amor do Filho de Deus, que se entregou, por nós, e venceu o pecado e a morte, com a Sua gloriosa ressurreição. Tudo converge na Páscoa da vinda e do regresso ao Pai do Senhor Jesus Ressuscitado que confessamos como Filho de Deus. Sem o mistério pascal, não existe o renascer da água e do Espírito que Jesus pede (Jo.3, 3) e do qual Ele dá exemplo, dizendo: “não há maior prova de amor do que dar a vida pela pessoa amada” e ainda que “há mais alegria em dar que em receber”.

1.- Como falar do Natal, no mundo secularizado, pós-cristão, enredado na fantochada celebrativa do regabofe do prazer divinizado? O Natal devia celebrar a vinda do Filho de Deus, feito carne, em tudo igual a nós, excepto no pecado, o qual caminhou para o baptismo da morte, rumo ao triunfo da ressurreição, levando-nos à fonte inesgotável da vida divina. Esta interpelação e conformação ao pensar e agir de Cristo está longe do coração e horizonte das pessoas, que não vêem nem entendem, prisioneiras do curto-circuito do eclipse de Deus e da idolatria do progresso. Os humanos tornaram-se insensíveis, já não se deixam tocar pelo amor de Deus, pela vinda intermédia de Jesus, que bate à nossa parte e nos convida à fidelidade, à prática do bem e à consagração da própria vida. Jesus Filho de Deus, que nasceu em Belém, e virá no final dos tempos não nos larga, nem cessa de exortar a crescer, na santidade e entrega, em prol dos outros.

Os cínicos, cheios de vento, dizem “comamos e bebamos que amanhã morreremos” e, assim, negam a vida que há-de vir e a Cristo que a dá, esfregando o próprio umbigo, indiferentes ao pobre, sem pão e sem tecto, no regabofe do carnaval e esbanjamento, que é grave injustiça a milhões de seres humanos, sem acesso aos bens e sem afecto, numa existência imerecida. Esquecem o destino universal dos bens e a Jesus que veio pregar a Boa Nova aos pobres e para que tenham a vida em abundância. Vivendo, deste modo, a celebração do Natal e do mistério redentor de Cristo perverteu-se. Já não há Natal do Filho de Deus, na vida concreta e paganizada das pessoas.

2. A Festa do Natal deve espelhar a santidade e a dignidade e levar-nos a Jesus, sempre disponíveis e abertos a Deus, como Maria Santíssima, os Pastores e os Magos. Unida a Jesus, Maria, São José, e os humildes, interiormente desprendidos, procuram, recebem e anunciam o Menino, verdadeiro Deus e homem e redentor do género humano, na simplicidade da vida quotidiana. Todos se consagram e celebram o Menino que é o centro, o ponto de referência, a causa da alegria e da festa natalícia. Ele nada nos rouba e tudo nos dá. Viver, pensar e agir, sem Ele e contra Ele, é perder o sentido da existência. Cristo revela-nos Deus e revela o homem a si mesmo (G.S.22). Há que esperar a Sua vinda, vigiando, fazendo o bem e conformando a vida ao Ressuscitado, que virá transformar o corpo mortal, para o tornar semelhante ao Seu Corpo glorioso.

3. – A Vinda de Jesus, que nasceu de Maria e voltará glorioso a julgar os vivos e os mortos, para nos dar a vida eterna, convida-nos a sermos fiéis à vocação a que fomos chamados, como fez Jesus, obediente, que saiu do Pai e veio ao mundo, não para ser servido, mas para servir e dar a vida em redenção (Mc 10,45).

O Ano Pastoral Diocesano visa interpelar e comprometer cada um, na resposta a Deus e na realização da vocação, sob a protecção da Mãe de Jesus, que, em Caná, nos pediu, para fazermos o que o Filho pede e, em Fátima, há cem anos, desafiou os pastorinhos a consagrarem-se a Deus, com a íntima e total oferta da própria vida.

O Natal exige a Páscoa e orienta-se para ela, como saída e oferta de nós mesmos, para a glória de Deus e benefício da humanidade. Não nos envergonhemos nem dos trapos, nem da gruta, onde Jesus nasceu, nem dos cravos, nem da cruz, onde Ele se ofereceu, por nós, dado que não há outra via se não esta, que nos leva à ressurreição.

Que Deus Menino vos encha de bênçãos e, pelo mistério da Sua morte e ressurreição, Vos conceda a vida eterna e a alegria do Ressuscitado, sentado à direita do Pai, como nosso intercessor, após ter assumido uma humanidade semelhante à nossa, no seio da Virgem Maria, por obra e graça do Espírito Santo. Assim, com os votos de feliz Natal, a bênção de Deus Todo-Poderoso, Pai, Filho e Espírito Santo desça, sobre Vós, e fique convosco, para sempre. Amen.

+ Amândio José Tomás, bispo de Vila Real

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