O Novo Testamento sempre foi um dos temas de interesse para muitos filmes. Nos anos mais recentes este mesmo tema foi alvo de um tratamento mais aprofundado, seja de uma forma intensamente realista, com é o caso de “A Paixão de Cristo”, de Mel Gibson (2004), seja numa narrativa linear e menos espectacular, como em “O Evangelho Segundo S. João” de Philip Saville (2003). Chega-nos agora “O Nascimento de Cristo”, em que se optou por uma narrativa fiel ao texto original, com uma abordagem muito acessível e preocupando-se menos com o realce do dramatismo de muitos dos acontecimentos que com a reconstituição do ambiente da época e da personalidade de alguns dos principais intervenientes. Não se perde o sentido da realidade, mas evita-se a crueza que algumas sequências poderiam atingir com outro tratamento, como é o caso da matança dos inocentes, que nos é relatada logo no início, com repetição perto do final, evitando-se sempre o acesso a imagens sanguinolentas. Não só a Sagrada Família, mas muitos dos que a rodeiam, são vistos de uma forma muito analítica, com uma definição correcta das diferentes personalidades e dos obstáculos que cada um foi obrigado a vencer. Com uma evidente preocupação de não deixar falhar a sua componente de informação e formação, o filme reflecte com vigor o valor de cada pessoa, a missão que cada um tem a cumprir e a forma como foram levados a bom termo os diversos compromissos que foram assumidos. E, sem nada de menos adequado, aproveitam-se mesmo os Magos do Oriente para alguns apontamentos de humor, bem construídos e perfeitamente integrados no contexto. “O Nascimento de Cristo”, um filme sóbrio, sem grandes rasgos mas quase sempre correcto, marca um bom passo na difícil abordagem, em cinema, dos tempos que antecederam o nascimento de Cristo e dos acontecimentos imediatos que condicionaram a História do mundo. Francisco Perestrello