D. António Luciano, Bispo de Viseu
O tempo de verão que estamos a viver com temperaturas muito elevadas, traz-me à mente e ao coração algumas memórias do passado, que me ajudam a refrescar um pouco a vida e a sonhar por um mundo melhor e abençoado pela paz.
Diante dos cenários de guerra e violência entre povos e nações, as organizações internacionais como a ONU e outras, como alguns governantes têm realizado iniciativas para pôr fim à guerra e promover a paz.
As tréguas temporárias de paz, mesmo durante o tempo dos Jogos Olímpicos, nem sempre produziram os frutos desejados. A tensão entre alguns povos subiu e a temperatura global atingiu níveis elevados com as alterações climáticas, caminhando lado a lado com as pessoas, nações e povos procurando criar novas relações e solucionar problemas difíceis.
Estes fenómenos característicos da nossa civilização fizeram aumentar as guerras, os conflitos armados e corridas ao armamento, como há muito tempo não se via.
Pergunta-se, quando acabará a guerra? Mas ao contrário aumenta a temperatura bélica e a dimensão de busca da paz, parece uma utopia e uma etapa longínqua.
Aqueceu desenfreadamente o ambiente da guerra, aumentou o número de mortos, de conflitos armados, de confrontos políticos, que põem em causa o maior bem das pessoas humanas. Está em risco, o respeito pela dignidade e valores humanos com a destruição e tranquilidade de aldeias, vilas e cidades.
O sofrimento aumentou globalmente, causando angústias, perdas e dores nas pessoas feridas, mortas e desalojadas, porque perderam tudo, principalmente os seus familiares, vizinhos e amigos. Num tempo como aquele em que vivemos, no final primeiro quartel do século XXI, é impensável ver tamanha crueldade e tirania diante de tantas guerras, que teimam em continuar nos mais diversos lugares do mundo.
Em tempo de férias merecidas para todos e de descanso necessário merecíamos viver um tempo de mais bonança e tranquilidade. Valha-nos Nossa Senhora, nossa Mãe e a Rainha da Paz. O tempo é de exaustão para militares, bombeiros, proteção civil, GNR, governantes e populações para apagar os incêndios e viver em paz.
O aumento dos incêndios por estes dias, um pouco por todo o território nacional e estrangeiro, incluindo a destruição de bens e da vegetação única e exuberante da ilha da Madeira não tem dado tréguas a ninguém.
Estou solidário com o povo sofredor da Ilha da Madeira, governantes, com a Diocese e o Bispo D. Nuno Brás, com todas as pessoas que vivem na pérola do Atlântico.
Rezo por tantas pessoas de outras regiões e países do mundo, que vêm os seus haveres e bens destruídos, aumentando a pobreza, a miséria e a fome junto dos mais pobres e vulneráveis do planeta.
Tudo mudou muito no mundo em que vivemos. Vivemos hoje uma nova época! O clima, as pessoas, as relações humanas, sociais, políticas, o espírito solidário, pacifista, a dimensão ética, e, até mesmo a dimensão religiosa e eclesial sofreram profundas mudanças.
Por natureza sou um otimista, marcado pela esperança evangélica, mas não posso deixar de olhar o mundo e ser realista na leitura dos sinais dos tempos positivos e negativos.
Celebrámos em agosto de 2023 em Lisboa a Jornada Mundial da Juventude, dias de festa e alegria eclesial inesquecíveis. Então o Papa Francisco dizia aos jovens: “Cada um tem uma vocação. É preciso caminhar. E, se cair, levanto-me ou haja alguém que me ajude a pôr de pé. Não ficar caído; e treinar-me, treinar-me a caminhar. E tudo isto é possível, não porque fizemos um curso sobre o caminhar; não há cursos que nos ensinem a caminhar na vida! Isto aprendemo-lo dos pais, aprendemo-lo dos avós, aprendemo-lo dos amigos, ajudando-se mutuamente. Na vida, aprende-se, e isto é treino para caminhar. Deixo-vos estas ideias. É preciso caminhar e, no caso de cair, levantar-se; caminhar com uma meta; treinar-se todos os dias na vida. Na vida, nada é de graça; tudo se paga. Só uma coisa é gratuita: o amor de Jesus! (Discurso do Papa Francisco, Lisboa na JMJ, 2023).
É preciso ajudar a reconstruir e a transformar os territórios de Israel, da Faixa de Gaza, da Palestina, do Irão, do Iraque, do Líbano, da Ucrânia e da Rússia com a nossa partilha, a nossa oração e a nossa solidariedade comum o mundo seja iluminado e as pessoas vivam em paz.
Que os lugares de destruição, de perseguição, de guerras e de morte se transformem em jardins e oásis de esperança. É preciso que a guerra acabe, é necessário olhar o mundo com esperança, otimismo e paz. Que os responsáveis dos povos não se cansem de negociar a paz verdadeira e duradoira a favor de todos.
Rezemos pela paz e pelo fim da guerra e conflitos armados, culturais, étnicos, raciais e religiosos que destroem vidas, famílias, povos, riquezas, o bem-estar fundamental e essencial da sociedade para viver em harmonia, progresso e desenvolvimento.
Respeitemos a “Casa Comum” e sejamos defensores dos valores da paz, da justiça, da fraternidade, da solidariedade, da partilha de bens, do respeito pelas culturas, pelo bem comum, da convivência fraterna, social e sadia entre os povos.
Infelizmente os cenários mundiais falam cada vez mais de insegurança, de violência, de roubo, de fraude, de criminalidade, de ódio, de inveja, de destruição e de morte.
Façamos todos alguma coisa de positivo. Construir uma sociedade pacífica, justa, solidária de modo que ninguém mais fique de fora. Os cristãos e pessoas de boa vontade como dizia o Papa Francisco na JMJ em Lisboa em 2023: “Não temais, não temais! Coragem, não tenhais medo”.
Temos que todos nos unir na oração e comunhão para destruir o mal, construir o bem, o progresso, o diálogo, a fraternidade, a solidariedade, o desenvolvimento, e pôr fim às guerras para alcançar a paz. Como lembrou são Paulo VI em Fátima em 1967: “Homens, sede homens!”