O mundo da informação

Isabel Figueiredo, diretora do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais

Acompanhar a atualidade a nível nacional e internacional não é uma tarefa fácil pelas razões que todos conhecemos – a multiplicidade de notícias e de meios tradicionais e digitais; a pluralidade de comentadores e opiniões, a dispersão motivada por uma diversidade de conteúdos.

Esta realidade tem vindo a alterar de forma significativa, o produto «informação» assim como o perfil do seu consumidor. A maioria das pessoas que se interessam minimamente por saber o que se passa no mundo, ou ao fundo da sua rua, como nos habituámos a ouvir, ficam pelas capas dos jornais, pelas notícias que passam em rodapé nos ecrãs de televisão ou por algum sound bite repetido nas rádios ou nas stories das redes sociais. Quem se senta a ler um jornal atentamente ou está disponível para ver um programa informativo do princípio até ao fim, sem estar ao mesmo tempo a olhar para o ecrã do telemóvel, começa a ser uma espécie em vias de extinção.

Outra realidade cada vez mais preocupante é a confirmação de que se consome informação de uma forma cada vez mais limitativa, isto é, só oiço, vejo e leio aquilo de que gosto. E o meu gosto acaba por me condicionar. Quando a informação séria, isenta e atenta, nos deve abrir ao mundo, nos deve inquietar, nos deve provocar o desejo de conhecer mais e melhor o que se passa à nossa volta. A informação tem o dever de trabalhar o contraditório, de procurar a verdade, de nos obrigar a pensar pela nossa cabeça, face ao que vemos, ouvimos e lemos. Nesta amálgama de informações, o papel dos comentadores é relevante. Por vezes chego a pensar se damos mais importância às palavras do comentador, do que ao trabalho do jornalista, que deve cumprir o código deontológico que determina a qualidade do seu trabalho.

Após um período eleitoral que revelou todas estas questões, os primeiros meses do atual governo em minoria na Assembleia da República, podem configurar um caso de estudo sobre estas matérias. Parece que só conseguimos dar voz a quem diga mal de tudo o que acontece. Se há negociações com um número x de sindicatos, o que parece interessar é salientar aqueles com quem não se conseguiu negociar. Se é tomada esta decisão, não vale nada, porque estão a deitar foguetes com o trabalho de outros. Se algo parece positivo, lança-se a dúvida sobre como será daqui a algum tempo… a doença de fazer sangue sobre tudo, está a espalhar-se de uma forma inaceitável e quase apetece perguntar se alguma vez seremos capazes de dizer bem de algo ou de alguém? Seremos capazes de publicamente dar o benefício da dúvida a quem está a começar um trabalho? Seremos capazes de ter memória e de trazer essa memória para o presente, tirando as ilações devidas? Seremos capazes de contrariar esta onda de mal dizer?

Não estou a fazer apologia de nada, nem a exercer defesa de ninguém. Mas estou cada vez mais convicta de que precisamos de contenção nas palavras, de conhecimento dos factos, de reflexão e discernimento. E é aqui que a informação séria, isenta e atenta, tem um lugar único e insubstituível. No caso acima referido, é preciso nunca esquecer que a política existe para servir as pessoas e não para se servir a si mesma, na realidade partidária que a identifica, estejamos a falar de ideias ou de pessoas concretas.

 

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Agência ECCLESIA

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