O mistério da fé

Concedei-nos Senhor a graça de venerar os mistérios do Vosso Corpo e Sangue A celebração da festa do SS, Corpo e Sangue de Cristo convida-nos a contemplar, a agradecer e a venerar este tão grande dom da presença real de Jesus no meio de nós. Se todos os sacramentos são mistérios em que o Senhor toca a nossa vida, na Eucaristia contemplamos o mistério por excelência da nossa fé, aprofundamos e consciencializamos a nossa fé na presença real de Jesus entre os seus fiéis. No centro da fé cristã está uma pessoa. O cristianismo não é primeiramente uma doutrina, embora nos ensine a verdade. Nem sobretudo uma moral, com obrigações e proibições, embora nos mostre um caminho que leva à vida. Nem se pode considerar predominantemente como uma cultura, embora dê origem a uma forma de entender o homem e a vida, base de todas as culturas. Ser cristão consiste, primeiramente, em acreditar em Jesus Cristo como Salvador. Mas Jesus Cristo, para os seus discípulos, não é como um fundador que pertence ao passado. Ele está presente, caminha connosco como caminhou com os discípulos de Emaús. Encarnou, fez-se carne, assumiu a nossa natureza humana por obra do Espírito Santo, para habitar no meio de nós. A presença na Eucaristia continua a presença da Encarnação. A presença eucarística é um mistério porque não se alcança pelo pensamento lógico. Conhecemo-lo pelas palavras do próprio Jesus Cristo, como ouvimos na narração da Carta aos Coríntios. A celebração do SS. Corpo e Sangue de Cristo aviva a fé na presença eucarística. Acreditamos que Jesus está connosco. A Eucaristia é o mistério por excelência da nossa fé. Resume os outros mistérios: prolonga a Encarnação; actualiza a redenção e a ressurreição. Prepara para a sua vinda, para o último encontro. No evangelho, a multiplicação dos pães, anúncio da Eucaristia, mostra-se relacionada com a pregação e a cura. A Eucaristia está ligada a toda a vida da Igreja. Todos os sacramentos se encaminham, para a Eucaristia. Todos decorrem da Eucaristia e a prolongam na vida. Deste modo, a Eucaristia é o centro da vida cristã, o segredo da Igreja, o nosso apoio. Liga-nos a Jesus, à sua história, ao seu sacrifício, à sua ressurreição. Precisamos da Eucaristia porque precisamos do alimento, da palavra da verdade e, sobretudo, da presença reconfortante do Senhor. Ele, de facto, está connosco. Por isso, não seremos vencidos pelas tempestades. Mesmo quando a barca parece afundar-se e Ele parece dormir, não tenhamos medo. Ele vai connosco. O sacramento da comunhão. O Corpo de Cristo na Eucaristia forma o Corpo eclesial. Sacramento que reúne à volta da mesa. Deus reúne-nos no amor de Cristo. Quando nos reunimos Ele está connosco e faz de nós uma família onde somos acolhidos, onde recebemos apoio e ajuda fraterna. A comunhão com Cristo é comunhão com a Igreja. Somos recebidos e acolhidos, recebemos e acolhemos. Recebemos e damos. Unimo-nos ao Senhor e à Igreja. Não podemos viver a fé sozinhos. Mas em Igreja. Precisamos da Igreja e a Igreja precisa de nós: da nossa presença, da nossa participação, do nosso amor. Em Cristo amamos também aqueles por quem o Senhor se entregou. Com Ele oferecemo-nos também aos outros. Quem acredita não está só: pode contar com a presença de Deus e o amor da comunidade. Eucaristia e missão. Os sinais sacramentais do pão e do vinho são frutos da terra e do trabalho do homem, manifestam a relação da Eucaristia com a vida. Podemos ver a mesma relação na primeira leitura em que Melquisedec oferece pão e vinho como gesto de gratidão ao Deus altíssimo que criou o céu e a terra e a tornou fecunda para que produza o alimento para a humanidade. Na Eucaristia renovamos a oferta de Cristo e com Ele oferecemos o nosso trabalho, as nossas orações, o nosso sofrimento, o nosso trabalho apostólico, toda a nossa existência. Tudo o que somos e temos se torna um sacrifício espiritual agradável ao Pai por Jesus Cristo. Toda a nossa existência é chamada a transformar-se por Cristo para se tornar uma bênção e dar fruto para o reino de Deus. A Eucaristia dá uma dimensão espiritual à nossa existência, regenera a nossa vida, infunde no quotidiano o perdão, a esperança e a paz. Por isso, não termina no templo mas prolonga-se na vida e gera a missão. No final recebemos a bênção para a levar ao mundo, irradiando a paz e a fraternidade. Da Eucaristia partimos regenerados para construir um mundo novo segundo o desígnio de Deus manifestado na Ressurreição. A relação entre a Missa e a missão é manifestada com a tradicional Procissão do Corpo de Deus pelas ruas da cidade. É um testemunho de fé. È igualmente um sinal da nossa missão no mundo: manifestar a dimensão transcendente da vida humana que encontra na relação com o mistério de Deus o seu apoio e o seu sentido. Não é um parêntesis na vida mas uma orientação de toda a existência que se reconhece fruto da bênção de Deus. Assim a solenidade do SS. Corpo e Sangue de Cristo ensina-nos a oferecer a vida na Eucaristia, a levar a Eucaristia para a vida, a oferecer o mundo a Deus e abrir o mundo ao mistério de Deus que dá sentido à vida quotidiana. Com a força do Espírito Santo e a protecção de Nossa Senhora sejamos portadores da paz e da fraternidade que nascem da Eucaristia para que nos tornemos construtores de um mundo novo. Santarém, 7 de Junho de 2007. Manuel Pelino Domingues, Bispo de Santarém

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