José Luís Nunes Martins
Olhando a nossa vida com distanciamento, conseguimos encontrar pontos onde saímos do nosso caminho, nos afastámos do que nos faria felizes, pontos onde nos perdemos, porque perdemos tempo, desperdiçámos oportunidades, destruímos pedaços da nossa vida.
Andamos com espinhos cravados na carne, tornamo-nos duros, amargos e insuportáveis. Doem, mas preferimos não os enfrentar. Por medo. Medo.
O que acontecerá para que isto seja tão frequente em tantas vidas?
O mal existe e não é apenas um vazio ou a ausência do bem. Busca o desvio, a divisão e aniquilação, por esta ordem.
Quando o amor não é forte, eis que o mal nos entra na vida pelas fissuras, sempre sob a falsa aparência do bem. Quanto pior é o mal, mais despercebido passa. Quando se nota já está resistente e é preciso arrancá-lo pela raiz. A confiança concedida uma vez é razão de atenção para sempre.
Há pessoas que, de tão centradas em si próprias, se fazem agentes do mal, que lhes promete muito, mas que nada do que lhes possa dar as fará felizes. O mal não dá, apenas retira. Seduz para dominar. Os escravos nunca são felizes, menos ainda os que são escravos do mal.
O mal é teimoso até ao limite. Vence, muitas vezes, pelo cansaço. Uma das armas mais fortes contra o mal é alguém não se fechar em si mesmo e partilhar com outros as causas dos seus desesperos e angústias. Confessar liberta.
De um mal deriva sempre outro. E é assim que se agiganta! Não são os grandes infortúnios que causam as maiores maldades. São os pequenos grãos de areia que se vão acumulando no dia a dia e que acabam por triturar os nossos sonhos, em silêncio.
Só o tempo e o silêncio permitem ver o mal e compreender por onde anda na nossa vida. Importa demorarmo-nos a procurar em nós os males que nos tentam e desviam. Uma boa pista é que as maldades que, com mais facilidade, conseguimos identificar nos outros, são as que temos ou já tivemos em nós.
Só quando percebemos o mal em nós é que podemos ser melhores do que nunca!
Emenda-te e perdoa-te. O desamor é o paraíso do mal.