À beira do Centenário da República, o que mudou na comunicação da Igreja, nos últimos 100 anos, e que oportunidades se levantam?
Um dos grandes desafios da Igreja, em 1910, era conseguir que a Palavra de Deus extravasasse do âmbito dos púlpitos, que ultrapassasse paredes e barreiras, muitas delas ideológicas, mas também culturais – grande parte da população portuguesa, no início do século XX, era analfabeta.
Na altura, ainda sem rádio nem televisão, a mensagem eclesial era transmitida pelas (poucas) publicações católicas existentes, como “A Nação”, em Lisboa, ou “A Revista Católica”, de Viseu, que tinham uma tiragem muito reduzida.
A juntar a estes factos, à luz da História, a acção dos dirigentes da I República procurou limitar a comunicação da igreja, receando o poder de mobilização que daí poderia surgir.
Hoje em dia, com a consolidação do direito à liberdade de expressão, com o aparecimento da Rádio e da Televisão, com a cada vez maior formação que é dada às pessoas, e principalmente com essa explosão comunicacional que se chamou Internet, a missão da igreja é a mesma – transmitir a Palavra de Deus – mas os desafios e as possibilidades que se abrem são incomparavelmente maiores.
“A Igreja tem dentro de si o desafio da comunicação e do diálogo, o saber estar e aproveitar da melhor forma o que a tecnologia disponibiliza” considera Emídio Rangel.
Em entrevista à agência ECCLESIA, o professor de Comunicação Social, que ocupou, entre outros cargos, a posição de director de programas da SIC, sublinhou a importância da era digital que se aproxima para a televisão.
“Aquilo que era um grande papão, extremamente difícil, pesado e complicado, como era o meio televisivo, vai deixar de ser assim, vai ser mais leve, vai ser mais diversificado, e portanto vai permitir que haja uma multiplicidade de canais e de veículos que possam ser utilizados”, defendeu Rangel, para quem “a era digital é um dado adquirido.
Para a Igreja, a chave para vencer o desafio tecnológico estará na capacidade que ela tenha em conseguir acompanhar a constante reinvenção dos meios de comunicação, sobretudo ao nível da Internet, um veículo que permite chegar a um mundo infindável de pessoas, sociedades e culturas.
De acordo com Francisco Sarsfield Cabral, “tem havido um grande esforço da Igreja, no sentido de aproveitar a evolução dos meios da comunicação social, mas ainda há uma margem muito grande para a Igreja progredir nesse campo”.
O antigo director de informação da Rádio Renascença chama a atenção, por exemplo, para coisas simples, como “os serviços litúrgicos ou outras iniciativas que a Igreja tem, ao nível das paróquias, em que deveria haver um maior aproveitamento do potencial da internet”, por exemplo.
“Também é preciso ter meios, sobretudo pessoas, tecnologicamente capazes”, ressalva Francisco Sarsfield Cabral, em declarações à agência ECCLESIA.
A memória da Igreja em 100 anos de República, o caminho percorrido em termos de comunicação e os desafios que se levantam, na sociedade tecnológica actual, serão alguns dos temas em destaque na próxima edição do programa ECCLESIA, segunda feira, dia 4, a partir das 18 horas, na RTP 2.