O Laço Branco – Condição Humana Agrilhoada

Filmado sob a premissa do contraste, incluindo no uso do preto e branco, estreia ( e concorre a importantes galardões) “O Laço Branco”, do realizador alemão Michael Haneke, conhecido pela dureza das histórias que já levou, com excelência, ao grande ecrã.

Ícone do cinema de raiz europeia, Haneke questiona nos seus filmes a verdade do que somos e vivemos, o que fez com a personagem dúplice e carente de “A Pianista” e com a progressiva revelação de “Caché”, lamentavelmente traduzido para o invertido “Nada a Esconder”, na versão portuguesa.

Também agora, em “O Laço Branco”, é a procura da verdade e da essência da existência o que move Haneke e as suas personagens de uma pequena comunidade rural do Norte da Alemanha pouco antes do eclodir da I Grande Guerra. Em oposição aos extensos campos de cultivo que a rodeia, aquela vive presa a um contraste socioeconómico evidente, aos menos evidentes mistérios e, sobretudo, bem guardados segredos que se transformarão em grilhetas para alguns dos seus habitantes.

Sob narração aparentemente trivial, vê o espectador desenrolar-se aos seus olhos um drama que sob inicial aparência de costumes ganhará dimensões trágicas proporcionais ao peso de uma moral férrea e intransigente, sob pretexto de uma religiosidade a viver com fervor, infligido sobre personagens evidentemente incapazes sequer de compreender, quanto mais aceitar ou libertarem-se, desse aprisionamento.

O papel do laço branco, constitui, ele mesmo, um contraste entre o que, alegadamente, simboliza – a pureza, a castidade, a libertação do pecado – e o que efectivamente representa na vida de quem o usa na comunidade – a privação da pureza e da castidade que a sua condição natural lhe deveria garantir.

Que me desculpem os leitores pela escolha consecutiva dum enredo menos suave para este espaço concedido ao que de novo há no cinema, o que justifico pela qualidade da obra e proporcional respeito que o leitor merece!

Margarida Ataíde

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top