Refere Alfredo Bruto da Costa na Semana da Pastoral Social
Ao olhar para a sociedade actual, o Presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP), Alfredo Bruto da Costa disse hoje (15 de Setembro), que “muito do que se faz visa apenas atenuar o estado de privação em que os pobres se encontram, a suprir as carências básicas – alimentares e outras -, mas não visam ajudar os pobres a reconquistarem um lugar na sociedade, de modo a terem meios de vida próprios e não precisarem da nossa ajuda”.
A decorrer em Fátima de 14 a 16 deste mês, a XXVI Semana da Pastoral Social é promovida pela Comissão Episcopal da Pastoral Social e tem como tema central «Dar-se de Verdade – Para um desenvolvimento solidário».
Na sua conferência sobre «A luta contra a pobreza, a família e as empresas: perspectiva ética», o presidente da CNJP realçou também aos cerca de 500 participantes que no que respeita ao combate à pobreza, “verifica-se que o impacto dessa acção é muito diminuto” As razões para essa diferença “parece estar nalguns factores identificáveis, o mais importante dos quais reside na limitação que os programas e políticas de luta contra a pobreza têm, de não poderem afectar privilégios nem o padrão de desigualdade que caracteriza a sociedade portuguesa”.
Num contexto de crise mundial, a encíclica «Caritas in Veritate» é um “verdadeiro tesouro” que merece “ser explorado” – declarou também o Pe. João Vila-Chã, Professor da Pontifícia Universidade Gregoriana e orador na XXVI Semana da Pastoral Social.
A «Caritas in Veritate» não é uma encíclica “apenas para católicos” – referiu o sacerdote jesuíta que aprofundou o tema «A caridade como princípio estruturante da ordem social».
Na sua conferência, o Pe. João Vila Chã sublinhou que uma economia que “não respeita a centralidade da pessoa é uma economia inumana”. E avança: “Deve existir uma fraternidade solidária entre todos os seres humanos”.
Quando a taxa de pobreza se mantém “estacionária ou apresenta uma redução pouco expressiva, – como aconteceu entre nós nos últimos dez anos – ficamos a saber que a nossa pobreza é persistente, ou que o número dos pobres que se libertaram é igual ao dos pobres que caíram na pobreza. Só um inquérito permitiria dizer qual das hipóteses se verifica entre nós”.
As políticas “redistributivas são necessárias” – pediu Alfredo Bruto da Costa. Para além dessas medidas são também necessárias políticas que “alterem a repartição primária do rendimento, a repartição que resulta da actividade económica normal, e que se reparte entre remuneração do trabalho e remuneração do capital; e, hoje temos de acrescentar, entre remuneração do trabalho mais baixas e as mais altas”.
A quem compete combater a pobreza? Na resposta a esta questão, o dirigente da CNJP sublinha que “do Estado e das instituições que dele dependem não devem esperar-se mudanças apreciáveis, em parte por razões eleitoralista e noutra porque essa via corria o risco de se tornar violenta”. E conclui: “resta o protagonismo da sociedade em geral, dos indivíduos, das famílias e das comunidades dentre as quais saliento duas: as comunidades eclesiais e as comunidades que são, ou deviam ser, as empresas”.