O futebol fora das quatro linhas

Leonor João, Agência Ecclesia

Foto: Lusa/EPA

Junho é o mês do verão, da chegada do calor, dos santos populares, da sardinha assada, dos caracóis, dos festivais de música e este ano de ver a Seleção Portuguesa a jogar no Campeonato Europeu de Futebol. Tinha 14 anos quando Portugal venceu o Euro 2016. Há poucos dias recordava o lugar onde tinha vivido esse momento, como todos fazemos com acontecimentos marcantes na história. Dias antes dei por mim a escutar o relato vibrante da vitória portuguesa sobre França, que me transportou irremediavelmente para aquele dia 10 de julho.

Contra todas as expectativas, a “seleção fraquinha” conseguiu o que ainda antes não tinha conseguido: a conquista do primeiro Europeu, o maior feito da história do futebol português. Celebrei o triunfo de Portugal em casa e é impossível esquecer a dimensão do mítico golo que chegou já na 2ªparte do prolongamento, pelos pés de Éder, eternizado na história como o herói da seleção nacional. Uma nação rendida, um país em festa, de nada mais se falava senão do feito da equipa das quinas.

Não tenho uma relação próxima com o desporto (é uma ilusão dizer que tenho sequer alguma). Nunca pratiquei um fora do âmbito escolar. E entre todos, o futebol deve ser um daqueles para o qual menos aptidão tenho. Além disso, entristece-me a violência a ele associado. Apesar de ter clube desde pequenina, não torço fervorosamente quando joga, não vou aos estádios, não conheço todos os jogadores que o constituem e só sei dos resultados das partidas pelos noticiários.

No entanto, o cenário é diferente quando a seleção portuguesa entra em campo. Continuo sem saber as regras básicas de um jogo de futebol e a condenar o clima de agressividade (verbal e física), os desacatos entre adeptos, o vandalismo e a intimidação, que deturpam o verdadeiro sentido do desporto rei, em torno do qual deveriam imperar a paixão, uma atmosfera única de alegria, o convívio entre gerações, o bom senso e o respeito mútuo.

Ainda assim, sei reconhecer o que muitas vezes ouço: “Nunca foi e nunca será só futebol”. Com o Euro 2016 e as restantes competições internacionais passei a perceber melhor que não se trata apenas de uma bola e de 11 jogadores. Felizmente, é muito mais que isso.

O futebol une, desperta emoções, cria memórias, contagia multidões e muitas vezes é um lugar de esperança. Um desses casos acontece no Sudão do Sul. A religiosa portuguesa Elisabete Almendra é “treinadora” de uma equipa de futebol de raparigas na diocese de Wau. As jovens treinam com o equipamento da seleção portuguesa oferecido pela Federação Portuguesa de Futebol e veem neste desporto uma oportunidade de estar juntas e com “outras pessoas em diferentes lugares”.

Em Portugal, no Sudão do Sul ou na Alemanha, o futebol e o desporto transmitem mensagens todos os dias. O Euro 2024 é o exemplo disso, desde o gesto carinhoso de um jogador com uma criança até ao cuidado da equipa quando um dos companheiros cai inanimado no relvado. Momentos como estes são um alento para o coração dos mais céticos, quanto à capacidade de ver o futebol para além das quatro linhas.

Depois de uma pausa de dois dias, o Europeu de Futebol regressa hoje com encontros dos oitavos de final. A seleção Portuguesa mantém-se em competição e a ambição de fazer repetir o êxito de 2016 e ficar na história é mais que muita. O país une-se novamente esta segunda-feira para ver a seleção portuguesa jogar e triunfar. Sonhar com a vitória não custa!

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Agência ECCLESIA

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