«O espírito de Taizé»

Milhares de portugueses viveram Semana Maior na comunidade ecuménica fundada pelo Ir. Roger Na colina do silêncio, tudo gira à volta dos três momentos de Oração Comunitária na Grande Igreja da Reconciliação: às 8h30, 12h30 e 20h30 tudo pára para rezar, após o toque dos sinos. Depois, Taizé ganha movimento, alegria e festa, na hora das filas das refeições, das limpezas, dos inícios e conclusões das reflexões orientadas pelos Irmãos, dos workshops ou trabalhos em pequenos grupos, dos momentos de distensão. O sonho ecuménico de Taizé, pequena aldeia no centro-sul de França, nasceu em 1940 com o Irmão Roger que ali viria a fundar uma comunidade com membros vindos de diferentes confissões cristãs. O objectivo era provar, com a vida, que a unidade dos cristãos é possível. Ele seria assassinado, durante a Oração, em Agosto de 2005, mas o ‘Espírito de Taizé’ continua mais vivo que nunca. Hoje são 100 os Irmãos da Comunidade, estando 30 em quatro Fraternidades, ao serviço dos mais pobres, no Bangladesh, no Senegal, na Coreia e no Nordeste Brasileiro. Em Taizé tudo é simples e os mais de 5000 jovens (alguns menos jovens), que ali viveram a Semana Santa, sentiram-se em casa: rezaram, trabalharam, partilharam, fizeram uma experiência de fé, de comunhão, de ecumenismo. Ali, todos têm nome, lugar, direito á palavra, ao silêncio e ninguém pergunta de onde vêm e quais as suas opções religiosas. Os irmãos fazem um convite, uma proposta e definem as regras do jogo. O resto é opção pessoal. Os cânticos de Taizé (já fazem escola), as partilhas simples da Palavra de Deus, os longos momentos de silêncio, o aprofundamento dos temas, os espaços de reflexão em grupo, o encontro com a diversidade cultural (vieram pessoas de 50 países)…tudo constitui riqueza. J. Paulo II, em 1986, disse lá que’ se passa por Taizé como se passa perto de uma fonte. O viajante pára, mata a sede e continua o seu caminho’. Os cerca de 500 portugueses, idos de norte a sul do país, que lá ‘peregrinaram’ sentiram isso mesmo. O grande ‘arco-‘iris’, que circundou a colina de Taizé na 2ª Feira-Santa, foi o símbolo perfeito da beleza e da diversidade que ali se viveram. Foi fantástico experimentar os 3 minutos de silêncio às 3h00 da tarde de Sexta-Feira Santa e proclamar, na Eucaristia de Páscoa, o grito de Ressurreição em todas as línguas dos participantes. O mundo, com seus problemas, está todo ali em Taizé. Em todas as Orações são citadas situações de desumanidade que é urgente converter com a força do Evangelho. O Irmão Alois, novo Prior de Taizé, insistiu no seguir Cristo ‘até ao fim’ e, na sua mensagem de Páscoa, lida na Vigília, lembrou que nenhum cristão busca um optimismo fácil, pois o sofrimento, a violência e a opressão estão à vista de todos. E, citando o Irmão Roger, recordou que não estamos sós a viver o combate da Fé. A Semana Santa seguiu, a par e passo, a Carta de Cochabamba, documento preparado pelo Irmão Alois para o I Encontro de Taizé na América Latina, realizado na Bolívia, em Outubro 2007, que nos convida a propagar, pelo mundo inteiro, o fogo da reconciliação. Nem o frio, a chuva e a neve abafaram o calor espiritual que ali se sentiu. No encontro que os portugueses tiveram com o Irmão David, único português na Comunidade, foi lançado o desafio de continuar em Portugal este ‘Espírito de Taizé’. Em Abril, Taizé descerá até aqui, com diversos encontros programados. E, em muitas Paróquias já há muita gente a reunir-se e a rezar, dando razão à Carta de Cochabamba: ‘A Reconciliação pode transformar em profundidade as nossas sociedades. O Espírito de Cristo Ressuscitado renova a face da terra. Deixemo-nos conduzir por esta dinâmica de Ressurreição! Não desanimemos perante a complexidade dos problemas! Não esqueçamos que podemos começar com pouco’. Tony Neves

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