O esforço inglório de um professor de EMRC

Com cerca de 1200 alunos, na Escola Secundária de Mirandela (diocese de Bragança-Miranda) a taxa de inscrição nas aulas de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC) situa-se abaixo dos 10%. “É uma média muito baixa”, mas “é um fenómeno que está na moda” – sublinhou à Agência ECCLESIA Bernardino Henriques, professor de EMRC naquele estabelecimento de ensino. Em conversas com os alunos, este professor de EMRC relata que os educandos “não estão muito motivados” porque “têm mais uma hora de tempo livre”. Como o número de presenças é baixo, os alunos de quinze turmas estão reunidos em sete grupos. “Dizem que preferem dormir mais uma hora (quando as aulas são de manhã) ou então ficam com mais uma hora para estudar” – explica. Para além destas justificações, em Mirandela criou-se a “mentalidade que a partir do 10º ano não se deve ter EMRC” – frisou Bernardino Henriques. E lamenta: “não compreendo e é um esforço inglório”. Com um bom relacionamento na comunidade escolar, o professor de EMRC realça que se esforça diariamente mas “não consigo alunos”. Este estabelecimento de ensino já teve três professores de EMRC. Hoje, resta Bernardino Henriques, que está prestes a pedir a reforma. “Sou do quadro, mas se isto continua assim nem devem chamar outro professor” – disse. Apostar no Marketing ou iniciativas publicitárias sobre a importância de EMRC “não traz resultados”. No início do ano coloca-se cartazes sobre a EMRC e “falo com os alunos e pais” mas “as inscrições não aparecem”. Bernardino Henriques relata um episódio curioso: “assisti a alguns professores de outras disciplinas a dizerem aos alunos que não valia a pena a matrícula em EMRC”. Bernardino Henriques semeia mas outros “vão por trás e estragam a sementeira” – confessou. Se existisse Desenvolvimento Pessoal e Social… Os alunos inscritos poderiam ser um elo de ligação para motivar com os amigos. “Na nossa escola é ao contrário, pensam mais na brincadeira”. Para este professor de EMRC, o número reduzido de alunos deve-se também ao sistema que “permite a não existência de outra disciplina no mesmo horário de EMRC”. E adianta: “se existisse alternativa, a disciplina de EMRC tinha uma taxa altíssima”. Os bispos, refere, deviam “ter feito mais pressão” para que houvesse o Desenvolvimento Pessoal e Social (DPS). “Se existisse DPS garanto-lhe mais de 90% dos alunos se inscreviam em EMRC” – disse Bernardino Henriques. A cidade de Mirandela cresceu imenso nos últimos anos. Esta transformação “não foi benéfica para o catolicismo”. E explica: “filhos de casais que pertencem a movimentos da Igreja não vão às aulas de EMRC”. À beira dos 65 anos e com quatro filhos, este professor de EMRC irá brevemente para a reforma mas “com algum desgosto”. “Tentei motivar os alunos mas não consegui” – lamenta. As novas gerações estão familiarizadas com os meios informáticos todavia esta escola de Mirandela “é carente nestas coisas”. “Só temos duas salas com computadores e estão sempre sobrecarregadas”. Material de apoio para as aulas de EMRC não falta a este professor. “Tenho vídeos de toda a bíblia e muitos diapositivos” – relata. Para projectar este material, as condições na escola não são as mais propícias. “A escola tem cortinas e não se vê bem” – desabafou. As visitas de estudos foram outro meio para cativar os alunos. “Agora já não deixam porque não tenho uma percentagem suficiente de alunos”. Iniciativas não faltaram o que falta é “mudar a mentalidade” – concluiu.

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