O envelhecimento é notícia!

José Carlos Batalha, presidente da Federação de Instituições de Idosos

A Velhice e o envelhecimento são a questão social emergente, não só pelo facto de ser um fenómeno demográfico, mas pelas transformações sociais, económicas e culturais que suscitam o repensar do nosso sistema de valores.

Falamos de pessoas e como tal necessitamos urgentemente de encontrar soluções humanamente dignas.

A FITI tem reiteradamente manifestado que o envelhecimento só constitui problema porque esta nossa sociedade não está configurada com a população idosa. As estruturas sociais têm de operar uma mudança fundamental no modo como valorizam a população idosa.

Se o crescimento da esperança de vida é o sinal visível e evidente do progresso científico é também o convite para conhecermos a forma como é vivida a velhice e como podemos e devemos dar voz aos idosos. É o desafio de encontrarmos respostas sociais  e a articulação necessária entre as diversas instâncias e organismos da sociedade civil, incentivando-as para a acção encontrando respostas novas e inovadoras para os vários e múltiplos desafios que lhe estão inerentes.

Há cerca de um ano foram vários os casos de descobertas em Lisboa de alguns idosos que apareceram mortos em vários locais da capital.

Não há, seguramente , dados estatísticos, que nos possam indicar quantos idosos acabam os seus dias em solidão, nas suas habitações.

Desconhecemos também, com rigor, o número de idosos que vivem sozinhos.

A cidade de Lisboa possui um plano gerontológico municipal 2009-2013 ao qual se juntam de forma avulsa vários projectos da responsabilidade de instituições, no que concerne a apoio a idosos.

Para a FITI, que entende criar um Observatório da Pessoa Idosa, os idosos têm um papel muito pouco reconhecido, ou mesmo nulo, no que concerne à participação social, aos meios de informação, (só são notícia pela negativa), nas organizações e até na própria família.

As condições de habitação são também um problema que importa ter em conta.

Nas cidades, na grande cidade, a solidão é o vírus desta sociedade. É a doença do momento!

Os grandes aglomerados urbanos aceleram o fim das relações de vizinhança, fomentam o individualismo e o anonimato e potenciam a fragilização da coesão social.

O sofrimento dos idosos que vivenciam este estado de esquecimento e de solidão é dramático e é seguramente uma das situações mais penosas às quais urge dar resposta.

As redes de vizinhança, para além dos apoios familiares e de amigos, no que se refere aos afectos, são de capital importância no quotidiano das pessoas idosas que vivem isoladas.

Os comerciantes de bairro, os vizinhos, valorizam as coisas simples do quotidiano, são defesas inquestionáveis para a solidão e para a insegurança, consolidam laços fundamentais e reforçam e dão expressão activa à solidariedade de proximidade, apesar de se constatar também que algumas mudanças na configuração urbana são constrangimentos a estas solidariedades tradicionalmente muito fortes.

A FITI entende e reafirma que as relações interpessoais e intergeracionais constituem a resposta ao isolamento e ao sentimento de solidão.

E aí estão as instituições particulares de solidariedade social, as paróquias, os diferentes grupos associativos que serão capazes de articular os mecanismos necessários no sentido de sinalizarem, de prevenirem de solucionarem as situações de isolamento.

É esta a sua função ética, pedagógica e de antídoto à forte anomia social deste nosso tempo.

O desafio é criar políticas sociais e de solidariedade que defendam que o melhor lugar para o idoso é a sua casa, junto da sua família, dos seus amigos e vizinhos, que possibilitem e incentivem uma vida mais coesa e mais fraterna.

José Carlos Batalha, presidente da Federação de Instituições de Idosos

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Agência ECCLESIA

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