O emigrante merece ser feliz

Paulo Rocha

Recordo a história de um amigo que emigrou. Penso no seu percurso de vida, sozinho, longe de todos os que com ele sonharam o futuro e olharam o horizonte e os projetos promissores da felicidade…

Hoje está em França, num trabalho duro, faça chuva ou faça sol. Tem uma licenciatura, gosta da leitura e do diálogo em torno de muitos temas, também aqueles que preenchem tertúlias de ambiente eruditos. A pedra e o ferro consomem o seu dia-a-dia: Trabalha na manutenção das linhas de caminho ferro em toda a França, com gentes de muitas latitudes, de dia ou de noite, tanto durante o pico do verão e como no rigor do inverno.

Esta, como todas as histórias de emigração, equacionam o problema da mobilidade humana como um direito da pessoa, como condição de cidadania global e de oportunidade de recomeço, capaz de transformar itinerários de vida e de fazer despontar virtudes e atitudes escondidas na rotina das origens.

Mesmo nos casos em que os primeiros episódios da novela migrante são preenchidos por contradições e desventuras, a procura de soluções, a capacidade de descobrir novos engenhos conduz quase todas as desventuras a um final feliz. Exceto numa situação: quando o homem explora o seu semelhante.

O ambiente da emigração tem hoje muitas situações de escravatura! Sim, ela não terminou e transforma o direito dos cidadãos a migrarem numa ameaça à exploração. De forma crescente nos dias de hoje, mesmo que sejam mais as vozes a sugerir o acolhimento, o conhecimento e a integração de quem é estrangeiro.

Emigração nunca pode ser a outra face da moeda do mundo dos refugiados, seja por perseguição política, religiosa ou étnica.

Emigração também não pode ser um refúgio das pessoas que não encontram outra via. Ela deveria ser sempre uma via de oportunidade, procurada e desejava, porque só essa conduzirá à felicidade.

Há dias, esse amigo partilhava nas redes sociais sentimentos que terão preenchido algumas horas de descanso, e que recordo com frequência. Também no contexto da celebração do Dia Mundial do Migrante e Refugiado, a 19 de janeiro:

Hoje aconteceu-me algo de extraordinário:
um anjo atravessou-se no meu caminho e sorria para mim.
Assustado, perguntei-lhe se Deus estava zangado comigo.
Ele sorriu ainda mais e apenas me disse
que Deus o tinha enviado para me dizer
que também eu merecia ser feliz…

Mais do que resposta a convites políticos, emigrar é a afirmação por excelência da esperança, no maior realismo que a vida pode oferecer. Nos momentos bons e sobretudo nos maus. Mas sempre em busca da felicidade! 

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Agência ECCLESIA

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