Nova Orleães, 1918. Nas ruas celebra-se o fim da guerra mas, em casa, o pai Button lamenta a perda da mulher e o estranho aspecto do bebé que ela acaba de dar à luz: um bebé enrugado como um velhinho. Abandonado à porta dum lar de terceira idade, Benjamin cresce rodeado de amor e respeito pela sua rara circunstância: a de desafiar as leis do Tempo, rejuvenescendo a cada dia que passa. Aceitando em pleno a sua condição, abre-se ao Mundo e à vida aproveitando tudo o que estes lhe possam oferecer. Realizador de tramas intensas como “7 Pecados Mortais”, Clube de Combate e “Zodiac” e de mais uma série de compilações de músicos e cantores famosos, o americano David Fincher regressa ao grande ecrã com mais uma surpresa: uma adaptação curiosamente muito livre da conhecida sátira de F. Scott Fitzgerald. Digo muito livre pois, em boa verdade, do original para a versão cinematográfica só não se perdeu o título, nem a premissa de que o Tempo é feito de momentos e não de minutos. De resto, quase tudo é diferente, passando-se da sátira a um conto esteticamente belo, onde o argumentista Eric Roth substitui o reactivo e até intempestivo Benjamin de Fitzgerald, por um Benjamin totalmente permeável à passagem do Tempo, incapaz de o deter. Caminhando no sentido inverso da restante Humanidade, Benjamin não encontra nisto conflito senão quando a questão da paternidade se coloca. Desafio técnico e temático de envergadura, no primeiro a equipa liderada por David Fincher poderá tranquilamente gabar-se de sucesso, comprovado pelas inúmeras nomeações a prémios de que tem sido alvo. Já no que toca à adesão temática e à gestão narrativa da história, não se espere que os resultados sejam tão consensuais: nem sempre nem todos os espectadores, mais e menos especialistas, poderão aderir de forma igualmente entusiasta a esta história reinventada por Eric Roth e uma ausência de intensidade dramática escudada na tal complacência do protagonista face às vicissitudes de um Tempo não só contrário mas por vezes também adverso à sua vida com os demais. Margarida Ataíde