O Congresso de Viena e a Nova Evangelização

Ana Maria Jorge, Direcção da Faculdade de Teologia O Iº Congresso Internacional para a Nova Evangelização que decorreu, nos dias 23 de Maio a 1 de Junho, na cidade de Viena foi a primeira etapa de um “itinerário” que terá em Paris, Lisboa e Bruxelas outros momentos significativos de aprofundamento da problemática da nova evangelização e de vivência da mesma. O programa plural, aberto e diversificado que decorreu em Viena através de múltiplas conferências, debates, missões, testemunhos, constituiu, com efeito, um momento ímpar de reflexão e vivência sobre as novas formas de evangelização na cidade. Alí redescobrirmos que a evangelização é, antes de mais, comunhão eclesial. Neste sentido, a experiência de Igreja realizada em Viena não pode ser reportada já ao passado, ainda que recente, as suas marcas continuam vivas nas diversas dinâmicas de encontro, partilha de experiências e reflexão que, desde aí, têm acontecido em Lisboa. A Igreja de Lisboa foi convocada para Viena. É certo! Nem todos partiram mas todos fomos convocados pelo nosso bispo a fazermos nosso o desafio da nova evangelização na cidade que somos chamados a “construir”. A experiência vivida em Viena não foi um ponto de chegada mas um ponto de partida. Muito caminho está ainda por percorrer… Por isso, estamos, desde já, convocados para Paris, Lisboa e Bruxelas. Somos convidados a redescobrir a evangelização como a missão da Igreja no seu conjunto, a missão de clérigos e de leigos, de crianças, de jovens e de adultos… somos chamados a redescobrir a evangelização como missão aberta e plural de anúncio do Evangelho a todos, inclusivamente àqueles que já ouviram falar dele nas nossas cidades e fora delas. “Se anúncio o Evangelho, não é para mim motivo de glória, é uma obrigação que me foi imposta: ai de mim, se eu não evangelizar!”(1Cor. 9, 16). Estas palavras de S. Paulo foram as de tantos e tantos evangelizadores ao longo dos séculos. Que elas continuem a ecoar no coração e nas ruas das nossas cidades. Hoje como ontem é o Senhor que nos convoca para a missão! Hoje como ontem o Evangelho continua a estimular os homens e as mulheres crentes a partir. A partir de si próprios até aos outros, da sua cultura até a culturas diferentes, de horizontes conhecidos até a outros horizontes… A história da evangelização é precisamente a história das sucessivas conversões da Igreja à comunhão com Deus e com os homens, à largueza dos sentimentos do próprio Deus… Durante os primeiros séculos a evangelização realizou-se muito ao ritmo do quotidiano, o anúncio foi passando através da pregação, do testemunho de vida das comunidades… O processo de evangelização teve, ao longo dos séculos, diferentes matizes, muitas luzes e muitas sombras, vicissitudes muito diversas… contudo, foi através disso tudo que a evangelização aconteceu ao longo dos tempos. As gerações crentes ao evangelizarem nem sempre souberam ter o coração fixo no bem mas apesar de todas as suas fragilidades foram, mesmo assim, semeando a Boa Nova a que Deus deu incremento. Hoje como ontem, evangelizar (de novo) é voltar ao Kerigma, ao primeiro anúncio da morte e ressurreição de Senhor Jesus. Foi assim que a Boa Nova do Evangelho se foi expandindo a partir do dia de Pentecostes. Os Actos dos Apóstolos lembram-nos isso mesmo, lembram-nos que a evangelização foi e continua a ser obra do Espírito connosco. Foi Ele que fez aquela primeira geração crente ir crescendo de surpresa em surpresa, no acolhimento da surpresa do encontro e identificação com o próprio Deus. Foi assim que a mensagem ultrapassou as fronteiras do Império, dos reinos, dos estados modernos, no confronto com povos tão diferentes e com culturas tão diversas. A nova evangelização é, com efeito, obra de Espírito de Deus em acção, connosco, mas apesar de nós. A evangelização nem sempre foi o resultado de acções feitas com muitos recursos. Foi, acima de tudo, a “simplificação da vida” perante Deus que levou os evangelizadores à descoberta da vontade do Senhor para os seus contemporâneos. Que os levou à descoberta de uma vontade não geral e abstracta mas de uma vontade circunstanciada no tempo e na pessoa. A evangelização fora da Europa e dentro dela já tem uma história larga. É importante conhecê-la, recordá-la, estudá-la para a continuar a construir e a “escrever”. Hoje como ontem é o Espírito de Deus o grande “agente” do processo de evangelização. É Ele que nos move apesar das nossas inércias, é Ele que nos desafia a ir mais longe apesar dos nossos medos, é Ele que conduz a acção da Igreja apesar das suas fragilidades, é Ele que nos ensina a dar o nome do Senhor às situações, aos acontecimentos…. Evangelizar é, com efeito, dar nome! Para isso, é fundamental conhecermos e compreendermos o mundo em que vivemos, as suas esperanças e aspirações, e o seu carácter tantas vezes dramático, para aí reconhecermos os sinais dos tempos e “encaminhá-los” para Cristo. O congresso de Viena mostrou-nos bem, pela sua própria dinâmica, que a evangelização se desenvolve no contexto da vida concreta dos homens, no diálogo com as suas alegrais, tristezas, certezas, dúvidas, expectativas… é imprescindível nos nossos contextos de individualismo restabelecer a solidariedade interpessoal, a caridade que evangeliza. Hoje como ontem somos convidados a desencadear uma dinâmica que tenha a ver com todas as vertentes da pessoa, que leve ao serviço concreto das populações, à cooperação entre os povos, ao diálogo… Para tal, urge reavivarmos o entusiasmo do anúncio (Act. 16, 9)! O ICNE, realizado em Viena, levou-nos, com efeito, a equacionar novas formas de evangelizar as nossas cidades na diversidade dos carismas, na pluralidade das acções, dos métodos, das expressões… Quanto caminho ainda por percorrer! O congresso lembrou-nos que a nova evangelização é tarefa prioritária na Missão da Igreja, lembrou-nos que a nova evangelização nos abre sempre novos horizontes de universalidade no diálogo e no encontro de culturas, mesmo que as suas matizes sejam diferentes das nossas. E isto acontece em cada uma das nossas cidades, aqui e agora! É aí no encontro e confronto de culturas que “acontece” o anúncio da vinda do Reino. Somos convidados, assim, a alargar as nossas “fronteiras” sempre mais e mais e a acolher os novos desafios que a cultura contemporânea nos coloca pela frente! É preciso sermos creativos! Só assim podemos encontrar novas formas de evangelizar, novos canais para veicular a Esperança que nos move! Que as palavras de S. Paulo: “fiz-me tudo para todos a fim de a todos atrair para Cristo” continue a gerar testemunhas no coração das nossas cidades. É fundamental testemunhar que Deus está presente e nesta certeza procurar o sentido da vida e da história… mas para procurar o sentido é preciso escutar. O congresso de Viena também nos convidou a esta atitude de escuta. As realizações não se esgotaram nas palestras e nas missões desenvolvidas na cidade. Os tempos de oração, nomeadamente os tempo de adoração eucarísticas, foram momentos de convite a permanecermos no essencial. Ana Maria Jorge, Direcção da Faculdade de Teologia

Partilhar:
Scroll to Top