A evolução do número de espectadores nas salas de cinema tem crescido em Portugal nos últimos anos, tendência também verificada na generalidade da Europa. No nosso caso serão muitos os factores a contribuir para esta situação, entre os quais será de realçar a constante abertura de novas salas em locais diversificados. No ano corrente, no entanto, segundo números divulgados pelo ICAM, a tendência inverteu-se. Com bons resultados em Janeiro (mais de um milhão e trezentos mil espectadores) os números desceram depois praticamente todos os meses, atingindo em Junho menos de oitocentos mil bilhetes vendidos. Há que ter em conta que se seguirão correcções positivas sobre os meses mais recentes, mas os dados adicionais não serão de molde a inverter a tendência. E se o Euro 2004 pode explicar alguma coisa para o último dos seis meses analisados, já não se vê como possa ter tido reflexo logo a partir de Fevereiro. O efeito sazonal explicará também uma parte da evolução. Em qualquer caso a mais forte razão estará na limitada qualidade da generalidade dos filmes, o que é tanto mais evidente quanto os que mais contribuíram para o volume de espectadores – os grandes êxitos – tiveram a sua mais forte influência em meses já adiantados. «A Paixão de Cristo», o maior sucesso do ano, estreou em Março, enquanto «Tróia» e «O Dia Depois de Amanhã», com resultados significativos, estrearam já em Maio. Apenas «O Último Samurai», que transitou do ano anterior, se situou como peso pesado no mês de Janeiro. Alguns filmes de qualidade situaram-se na área das obras menos populares, estreadas num número limitado de salas. A evolução referida não deixará de constituir um alerta para os profissionais do sector, que mesmo limitados ao que fica acessível nos fornecedores internacionais poderão rever alguns aspectos em termos de aquisições, de marketing e do abandono de uma política em que a passagem nos ecrãs é por vezes apenas pretexto para atingir, posteriormente, o mercado do vídeo e o DVD. Francisco Perestrello