Rui Ferreira entrou na Companhia de Jesus há cerca de quatro anos Rui Ferreira nasceu em Braga há quase 24 anos. Ingressou na Companhia de Jesus em Setembro de 2004, residindo actualmente na Comunidade Pedro Arrupe. Porquê Jesuíta e não outro instituto religioso? «Pela sua alegria e uma certa “normalidade” na maneira de estar e relacionar-se com os outros», algo que – explica Rui Ferreira (RF) nesta entrevista, a propósito da Semana de Oração pelas Vocações – começou a sentir durante a preparação para o Crisma no Centro Académico de Braga (CAB), estrutura criada e dinamizada pela Companhia de Jesus. Amanhã, é a vez de uma Carmelita explicar as razões que a levaram a optar pela vida contemplativa. DM – De que forma sentiste o apelo de Deus? RF– Falar do apelo de Deus é necessariamente falar da nossa fé. Todos os cristãos sentem o apelo de Deus, e este é um ponto de partida importante. Quando fui baptizado com dois meses, não saberia muito bem responder a este apelo. A família, o mundo à minha volta e até a vivência particular da fé na minha cidade foram construindo o cristão que sou hoje. Só lentamente me fui sentindo mais autónomo na minha relação com Deus. A fase dos questionamentos que chega na adolescência foi um momento de confronto com a verdade. Nessas alturas todos questionamos o sentido da nossa existência, o “porquê” das coisas à nossa volta. Eu não fugi à regra. O apelo de Deus ia surgindo nas pequenas opções do meu quotidiano, na forma de me relacionar com os outros. Não considero que agora, por ser Jesuíta, tenha respondido mais claramente ao apelo de Deus. Deus chama todos os cristãos a arregaçarem as mangas e a trabalharem por um mundo melhor. DM – Quais os maiores desafios na resposta ao chamamento de Deus? RF– Se fosse há uns tempos atrás, eu responderia que o maior desafio tinha sido deixar de lado os sonhos que tinha, a minha cidade, a minha família ou os meus amigos. Porém, sinto que o chamamento de Deus está constantemente a acontecer na minha vida. Portanto, ele não foi apenas realidade quando me tornei Jesuíta. Falando concretamente do desafio quotidiano do chamamento, aquilo que mais me desafia é a alegria. Mesmo quando enfrentamos a dureza, o sofrimento ou a limitação, saber ser um optimista faz-nos mais próximos do que Deus quer (porque o mundo não vai acabar e ainda que acabasse… Ele está). DM– Por que razão entraste para a Companhia de Jesus? RF– Pegando na questão, não sei se a minha entrada na Companhia se deve a uma razão… diria mais coração. Conhecer os Jesuítas, numa fase em que me preparava para o Crisma no CAB (Centro Académico de Braga), moveu-me por dentro muito mais que qualquer motivo lógico. Quando nos propomos “levar” Deus a sério na nossa vida, é impossível fugir ao compromisso – seja como religioso, casado, catequista ou animador do grupo de jovens. E os Jesuítas distinguiram- se pela sua alegria e uma certa “normalidade” na maneira de estar e relacionar-se com os outros, que até aí não tinha encontrado. DM – Que significa, hoje, um jovem entregar-se a Cristo e à sua Igreja? RF– Significa sentir que ser cristão faz sentido como opção de fundo na sua vida, que é o melhor caminho para o objectivo máximo da humanidade – ser feliz – e depois decidir dedicar-se à Igreja como padre, marido e pai, catequista, escuteiro, membro de um grupo de acção social, etc. DM – Qual é a especificidade de um “Companheiro de Jesus” na vida missionária da Igreja? RF – Há algumas missões directamente confiadas pelo Santo Padre aos Jesuítas (o Apostolado da Oração ou o diálogo com o ateísmo, por exemplo), porém se tivesse que definir a especificidade falaria de Jesus Cristo. Há uma espiritualidade centrada n’Ele, como o nome indica, numa relação com os outros e com o mundo que se quer muito próxima, muito ao jeito de Jesus.