Entre os 30 novos cardeais que receberam nestes dias as respectivas insígnias no Vaticano, Portugal pode contar pelo menos com um “grande amigo”, D. Renato Raffaelle Martino, a julgar pelas palavras do activista comunitário João Crisóstomo. “D. Renato Raffaelle Martino, até há pouco observador permanente da Santa Sé nas Nações Unidas, é um grande amigo de Portugal”, comentou à Lusa, desde Roma, João Crisóstomo, um dos poucos residentes de Nova Iorque convidados por D. Martino para assistir à sua elevação a cardeal, durante um consistório extraordinário que decorreu entre terça e quarta-feira. João Crisóstomo, que esteve ligado à causa da autodeterminação de Timor e à organização das manifestações efectuadas em Nova Iorque de apoio ao povo timorense nos meses difíceis que se seguiram ao referendo de 30 de Agosto de 1999, recorda o papel desempenhado pelo novo cardeal durante todo o processo e revela que “no próprio dia da sua elevação a cardeal, D. Renato Martino encaminhará para Timor todas as ofertas que receber”. Segundo activistas que em Nova Iorque seguiram de perto o longo e doloroso processo que culminou com a independência de Timor-Leste no ano passado, D. Renato Raffaele Martino, que fala português, desempenhou um papel importante no processo quando, de 1986 a 2002, foi observador permanente do Vaticano junto das Nações Unidas. “Em 1996, fui-lhe bater à porta para lhe pedir conselho e ajuda para Timor-Leste”, contou o fundador do Luso-American Movement for East Timor Autodetermination (LAMETA). Crisóstomo lembra que o então observador do Vaticano junto da ONU estava perfeitamente consciente do tema tabu que Timor-Leste era nessa altura nos corredores da administração norte-americana. O encorajamento do D. Renato Martino estaria na origem da fundação em Nova Iorque do LAMETA, o movimento que procurou divulgar os anseios do povo timorense não só nos meios luso-americanos, como também junto do público, da comunicação social, do Congresso dos Estados Unidos e da administração americana. Outra causa portuguesa que D. Renato Martino abraçou em Nova Iorque foi a reabilitação da memória do cônsul Aristides Sousa Mendes, creditado por ter salvo durante a segunda guerra mundial 30.000 refugiados concedendo-lhes salvo-condutos para Portugal apesar da proibição do governo de Oliveira Salazar. A 3 de Abril de 2001, numa cerimónia comemorativa da morte de Aristides Sousa Mendes em Nova Iorque, e em que estava presente o então embaixador de Portugal Seixas da Costa, D. Renato Martino foi o orador principal, traçando o perfil de Sousa Mendes como um homem bom cuja coragem deveria servir de inspiração para todos.
