Padre Basílio Firmino, Diocese de Lamego
Todos sabemos que no ano de 1999, a revista “TIMES”, a fim de conhecer qual seria a personalidade mais marcante e importante do milénio que estava a terminar, fez uma pesquisa entre os mais de nove milhões dos seus leitores. Curiosamente, quem ficou em primeiro lugar, não foi nenhum descobridor de outros mundos, nenhum cientista com as suas valiosas descobertas, nem nenhum astronauta ousado pisando o espaço.
Foi precisamente SÃO FRANCISCO DE ASSIS, que mereceu a escolha dos leitores.
E isto deve-se, não só por Francisco ter sido um líder religioso, mas sobretudo por ele continuar a ser, volvidos que são 800 anos, um modelo de humanismo, de fraternidade e do cuidado com a Natureza. E, se realmente refletirmos, grande parte do que mais negativo vai acontecendo no nosso mundo (guerras, conflitos, alterações climáticas), têm precisamente a ver com a falta destes valores que Francisco foi, é e será uma referência. Por isso, a escolha dos leitores desta revista não poderia ter sido mais acertada e atual, para servir de exemplo aos viventes do novo milénio, sobretudo neste tempo de grandes mudanças sociais, políticas e climáticas, a nível mundial.
Mas, nem com esta referência (e de outras personalidades marcantes), temos aprendido a lição, pois continuamos a fazer guerras, a criar conflitos, a investir numa destruição do humanismo e da fraternidade, assim como na destruição de todas as formas de vida e da própria Natureza. A má orientação e o descuido da criação por parte do ser humano, já nos deu e continua a dar, tantos sinais desta falta de cuidado com tudo aquilo que foi criado (tal como nós, criaturas de Deus), não para destruir e explorar, mas para cuidarmos desta “casa comum”, no dizer de outro Francisco (Papa Francisco), que de uma forma muito peculiar, nos tem lembrado as lições do grande santo, sobretudo através da publicação da sua encíclica “LAUDATO SI” em junho de 2015.
Uma curiosidade muito interessante, é que neste ano de 2025 celebram-se os 800 anos que São Francisco escreveu o “Cântico das Criaturas”, num momento em que o santo estava doente e já no leito de morte. Daí que, no seu poema de exaltação da contemplação e vivência de conexão biológica, o grande santo tenha incluído o louvor pela irmã morte. Não esqueçamos que no ano passado, tínhamos celebrado já, os 800 anos da criação e representação do primeiro presépio.
Mas, gostaria de me referir a uma outra curiosidade, no meu parecer, providencial e paradigmática, que surge do facto da penúltima estrofe da poesia de Francisco de Assis, ter sido acrescentada em julho de 1226 e constitui uma exaltação ao perdão e à paz.
Isto porque o santo se encontrava na casa do bispo de Assis, com o objetivo de colocar um ponto final no conflito, que existia entre o bispo e o perfeito da cidade. E para evitar uma guerra civil e para mediar este conflito, Francisco decidiu colocar mais esta estrofe no seu “Cântico das Criaturas”, como que se fosse um marco histórico para celebrar a paz que livraria o povo de Assis de consequências nefastas.
Recordemos essa bela estrofe:
“Louvado sejais Senhor, por aqueles que perdoam pelo teu amor;
E suportam enfermidade e tribulação.
Bem-aventurados aqueles que as suportarem em paz,
Porque, por Ti, Altíssimo, serão coroados.”
Que grande testemunho de humanidade e de fraternidade nos deixa São Francisco, como um legado que nos ensina a construir pontes, na vez de levantar muros, resolvendo os conflitos pessoais, entre grupos ou países, em prol de uma paz duradoira para todos.
Quão imprescindível se torna, que todos aprendêssemos esta lição de reconciliação e de paz, nas nossas famílias, nas nossas comunidades, no governo dos povos, em qualquer tipo de relação humana.
Ser peregrino da esperança, neste ano jubilar, significa, por um lado, aprender a contemplar e cuidar de toda a criação de Deus e, por outro lado, ser construtor de paz. Aliás, uma dimensão está intimamente unida a outra, porque se estivermos em união contemplativa com a criação de Deus, também estaremos, certamente, em paz com todas as criaturas, incluindo, toda a humanidade.
Pe. Basílio Firmino