O Baixo Alentejo, a desertificação e a seca

D. António Vitalino, bispo de Beja

1. A zona geográfica e económica

O Alentejo constitui cerca de um terço da área geográfica de Portugal continental, mas tem apenas cerca de 7% da população do país. Todo este território está divido por 3 dioceses: Portalegre-Castelo Branco, Évora e Beja, embora estas duas últimas tenham também zonas de outras regiões. Mas a Diocese de Beja ocupa todo o território da antiga província do Baixo Alentejo, com exclusão do concelho de Alcácer do Sal, que pertence a Évora e uma das suas freguesias, a Comporta, a Setúbal.

Com mais de 13 000 quilómetros quadrados, a Diocese de Beja tem os 14 concelhos do Distrito de Beja e 3 do Distrito de Setúbal, a saber, Grândola, Santiago do Cacém e Sines. Mas este imenso território, que se estende desde a Andaluzia ao Atlântico e da serra do Mendro ao centro do Caldeirão, em 2001 tinha 220 794 e em 2011 apenas 211 465, ou seja, menos 9329 habitantes. Praticamente todos os concelhos, com exceção de 3 do litoral e Beja perderam população.

Sines foi o único concelho que aumentou significativamente, 683 pessoas das 14 620, mas praticamente por causa de mão de obra proveniente de outras partes, por causa dos investimentos industriais, sendo a única terra onde praticamente não há desemprego.

Estas perdas de habitantes devem-se sobretudo à baixa natalidade e à emigração das populações jovens, de modo que todo o interior do Alentejo está desertificado e envelhecido. Os grandes projetos agrícolas e de turismo rural devido ao Alqueva não têm contribuído para a fixação da população, pois são de baixa empregabilidade, quando muito de trabalho sazonal. Infelizmente as águas da grande reserva do Alqueva ainda não chegam a todas as zonas agrícolas e onde chegam para pouco mais servem do que para aumentar o olival e a vinha com irrigação gota a gota. Muitas zonas de sequeiro foram abandonadas ou transformadas em montado e coutadas de caça, ou também de criação de gado, que, quando o clima não é favorável, como este ano com a falta de chuva, se reveste de grande risco económico.

2. A Diocese de Beja: problemas pastorais e sociais

Todos estes problemas geográficos, demográficos e económicos afetam a pastoral da diocese de Beja, pois as alegrias e tristezas, as esperanças e dificuldades dos alentejanos são também as nossas, como diz a constituição conciliar do Vaticano II Gaudium et Spes n.º 1, embora não se reduzam a isso.

D. Manuel Falcão, bispo emérito recém-falecido, dizia que o Alentejo nunca tinha sido verdadeiramente evangelizado depois da Reconquista, constituindo uma Igreja implantada no meio com uma hierarquia eclesiástica autóctone.

Depois da expulsão das ordens religiosas no século XIX ainda ficou pior. D. José do Patrocínio Dias, na primeira metade do século XX, foi o grande restaurador da diocese, mas as forças vivas vieram quase sempre de outras regiões. D. Manuel Falcão incrementou os planos pastorais e as missões populares, mas em tempos pouco tranquilos, política, social e eclesialmente. Mesmo assim, houve um certo aumento da prática religiosa e de vocações ministeriais de clero diocesano e religioso, e também de pessoas consagradas.

Para os seus 211 mil habitantes dispersos pelo imenso território, a diocese dispõe neste momento de 60 clérigos residentes, sendo 4 diáconos permanentes, 2 diáconos aspirantes ao presbiterado e 54 presbíteros, com a média de idade de 57 anos.

Dos padres, 13 são de institutos religiosos, 2 de outras dioceses e 7 já contam mais de 80 anos. Isto significa que há apenas 35 padres diocesanos no ativo para 119 paróquias, algumas delas muito extensas, como São Teotónio, que dizem ser a maior da Europa, em área geográfica.

Com esta realidade, a diocese tem de apostar muito na corresponsabilidade dos leigos e aproveitar todos os carismas na missão da Igreja. Embora não tanto quanto seria preciso, vamos tendo bons colaboradores e voluntários, sobretudo na evangelização e na área sociocaritativa. Os planos pastorais têm insistido nisso e o Sínodo diocesano anunciado deverá ser um forte incremento na formação e corresponsabilização de todos os cristãos na missão.

Quanto aos problemas económicos e sociais presentes, como a desertificação, a dispersão, o isolamento, a solidão, o envelhecimento, as monoculturas, a seca, o desemprego ou as reformas sociais mínimas, a Igreja, através de todos os seus agentes, procura trabalhar em rede e parceria com todas as entidades e instituições de modo a minorar os efeitos desumanizantes. Por vezes tentamos também dar voz a quem não a tem e alertar todas as instituições sociais da tutela diocesana, sejam movimentos sociocaritativos, centros sociais ou misericórdias, para estarem atentos e darem respostas de proximidade, de modo que ninguém passe fome, frio ou fique doente sem assistência. Muito mais não podemos fazer. Mas como cristãos também procuramos alimentar e fortalecer a nossa fé, pela formação e oração, de modo a que nunca nos falte a esperança de superarmos as dificuldades e contagiemos os desanimados.

D. António Vitalino
bispo de Beja

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