O autocarro da amizade

Diogo Fernandes, Diocese de Viana do Castelo

Quem nunca teve a oportunidade de conhecer pessoas novas tendo por tema de conversa o autocarro, enquanto espera pacientemente a chegada deste? Grandes amizades e quiçá mesmo casamentos terão resultado desta situação. Serão só coisas boas? Hum… temos o contacto físico quando os autocarros estão completamente repletos e nos obriga a encostar aos outros passageiros, espremermo-nos como se fossemos sardinhas enlatadas ou ainda a sentir de perto a mistura dos “perfumes” que se fazem notar pelo ar. A somar a tudo isto, temos as famosas greves dos nossos transportes públicos com avisos para a população “sempre” a tempo e horas, a raridade com que circulam nas nossas ruas, as “boas” condições das viaturas e os constantes aumentos das tarifas. Caro leitor, diga lá que não está mesmo com vontade para uma voltinha?

Foram, e continuam a ser, algumas das polémicas que nos últimos dias temos ouvido falar. Para além disso, fui também confrontado com uns pensamentos sobre a amizade… Foi por isso que “criei”, então, o autocarro da amizade!

O condutor desse autocarro somos nós próprios. A viagem inicia quando nascemos.

«- Família, podem subir e ocupar os primeiros lugares do “autocarro”!». Estes não precisam de pagar bilhete pois são um dos pilares fundamentais da nossa educação, segurança e estabilidade.

À medida que o tempo vai passando, vamos seguindo na estrada da vida. ALTO! Próxima paragem! Quem será que entra? Quem será que sai? Quem será que queremos que entre ou que saia?

Às vezes, são os próprios passageiros que clicam no botão “STOP” para que o condutor abra a porta para que possam sair e alguns nem têm a coragem de sair pela porta da frente despedindo-se do condutor. Saem logo pelas traseiras… Não importa até porque muitas vezes o condutor nem nota quem saiu porque lhe é indiferente. Outros passageiros optam por sair pela porta da frente, cabeça levantada, cientes daquilo que fazem e o condutor só pode fazer uma de duas coisas: aceitar e seguir ou então questionar porquê para poder convencer o passageiro a seguir viagem. Noutras alturas, mal o autocarro pára, entram pessoas em demasia, “sem pagar”, e o autocarro fica a abarrotar! Uns vão de pé e nem se importam mas rapidamente se vão cansar… Noutras ocasiões, o condutor pára o autocarro para pedir a alguns passageiros que saiam.

E lá vamos nós, “estrada” fora… E a vida é assim, uma viagem com várias paragens, uns saem outros entram… Eis que chega a uma altura da vida que o motorista olha pelo retrovisor e observa quais os passageiros que ainda lhe restam lá dentro. Ou percebe que o autocarro está vazio e entende que a “condução” não tem sido a melhor e até pode voltar atrás para apanhar novamente os passageiros que ainda queiram embarcar, ou então percebe que o autocarro tem os passageiros certos para poder seguir viagem.

[Curioso, não é? Adoro fazer isto: arranjar significados para as coisas tão simples que acontecem no dia-a-dia.]

São os amigos que fazem da vida uma viagem maravilhosa! Não precisamos de ter o nosso “autocarro” cheio. Precisamos de ter os passageiros certos para que a viagem seja incrível. As pessoas que amamos, os lugares onde estivemos e as memórias que fizemos. Só isso!

 

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