Nuno Teotónio Pereira

Nuno Teotónio Pereira, natural de Lisboa, é um arquiteto diplomado com 18 valores pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, cujo “atelier” era conhecido no meio dos arquitetos como a “sacristia” porque ele e Nuno Portas eram “católicos militantes”.

Nascido a 30 de janeiro de 1922, Teotónio Pereira recebe este ano, o «Prémio Árvore da Vida-Padre Manuel Antunes» atribuído pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura. O júri do galardão sublinha que a estatura ética e criativa do premiado representa uma lição de humanidade para todos nós e uma luz oportuníssima para pensar o lugar e o modo da arquitetura na sociedade.

A luta pela liberdade política e as preocupações sociais foram um dos traços da vida deste arquiteto que abdicou, aos 18 anos, do “«H» de Theotónio”, como confessou à revista «Público Magazine» de 31 de janeiro de 1993.

Com barbas brancas – interrompidas em tempos pela PIDE – o «Patriarca da Arquitetura» fundou, em 1952, juntamente com alguns artistas plásticos e os arquitetos Nuno Portas, Luís Cunha, Diogo Lino Pimentel, Formosinho Sanches, entre outros, o Movimento para a Renovação da Arte Religiosa, cuja ação propunha “uma arte religiosa de cariz pastoral, moderna, em contraponto aos modelos tradicionais então em voga”, como se lê no catálogo da exposição bibliográfica «Nuno Teotónio Pereira», realizada, em 2010, na biblioteca Keil do Amaral, em Lisboa.

Ao longo da sua carreira recebeu vários prémios de arquitetura: Prémio da I Exposição Gulbenkian, 1955, com o Bloco das Águas Livres; 2.º Prémio Nacional de Arquitetura da Fundação Gulbenkian, 1961; Prémios Valmor de 1967, 1971, 1975, respetivamente Torre de Habitação nos Olivais Norte, Edifício Franjinhas na Rua Braancamp e Igreja do Sagrado Coração de Jesus.

Depois dos 18 anos, Nuno Teotónio Pereira começou a “ver muito a sério os aspetos sociais do catolicismo” e procurou contactos com o padre Abel Varzim, “um homem do Movimento Operário Católico que depois foi desterrado de Lisboa”. Com estes contactos, leituras e os jornais da “esquerda católica europeia”, o arquiteto foi-se “definindo nessa direção”, mas o que lhe interessava “eram os acontecimentos, não era a teoria”, lê-se na entrevista ao referido jornal.

Preso pela PIDE em 1967, 1972 e 1973, tendo sido libertado da prisão de Caxias após o 25 de Abril de 1974, Nuno Teotónio Pereira afirma que a certa altura, após a Revolução dos Cravos, começou a ver-se“fora da Igreja” e o primeiro elemento que o levou a tomar esta decisão foi sentir-se “incapaz de estar em comunhão, como se diz na Igreja, com os bispos, com os dirigentes” e acrescenta: “Não podíamos estar no mesmo barco”..

Ativista na luta contra a guerra colonial, o arquiteto de 90 anos reconhece que foi alertado para o problema “através das publicações católicas” e recebeu influência “dos padres angolanos que foram desterrados para cá, colocados em casas religiosas e seminários sob a vigilância dos superiores dessas casas”. Considera que o tempo da clandestinidade “foi um período apaixonante”, visto que pretendia “que a opinião católica tomasse consciência da situação e da contradição entre a guerra colonial e os apelos de paz que o Papa fazia com frequência, sobretudo João XXIII”.

Atento ao mundo e àquilo que o rodeia, Nuno Teotónio Pereira olha o futuro com alguma preocupação: “Caminha-se a passos largos para a destruição do planeta, e não há conferências internacionais que permitam fazer marcha atrás” porque “ninguém quer desfazer-se dos seus privilégios”, lê-se numa crónica escrita no jornal «Público» de 23 de maio de 1995.

Membro honorário da Ordem dos Arquitetos desde novembro de 1994 e «Doutor Honoris Causa», pela Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto desde 2003, Nuno Teotónio Pereira reconhece que “se não tivesse seguido arquitetura teria sido geógrafo” (Cf. Jornal «Expresso» de 19 de junho de 2004).

No próximo dia 11 recebe o «Prémio Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes» na igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Lisboa, uma construção “inserida no tecido urbano” e que “do ponto de vista da conformação do espaço no interior, tende para uma disposição radial”, como explica o arquiteto ao Jornal «Público» de 26 de junho de 2004.

LFS

 

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