D. Manuel Monteiro de Castro fala do cargo de penitenciário-mor como um serviço à Igreja e às pessoas de hoje
Lisboa, 07 fev 2012 (Ecclesia) – O novo cardeal português, D. Manuel Monteiro de Castro, considera que a sua designação por Bento XVI é um “reconhecimento” também para Portugal, reforçando a relação entre o país e o Papa.
Em entrevista hoje publicada pelo Semanário Agência ECCLESIA, o penitenciário-mor da Santa Sé revela que o Papa ficou com “uma impressão muito, muito boa após a visita a Portugal”, em maio de 2010, o que terá pesado na sua escolha, a que se soma o facto de o cardeal Saraiva Martins ter completado 80 anos de idade em janeiro, deixando de ser eleitor.
“Tudo isso ajudou, naturalmente”, constata.
Bento XVI convocou a 6 de janeiro um consistório para a criação de 22 novos cardeais, marcado para o dia 18 deste mês.
D. Manuel Monteiro de Castro torna-se o 47.º cardeal português da história e o primeiro em mais de 10 anos, após a consistório de 2001 em que foram criados cardeais D. José Saraiva Martins e D. José Policarpo.
“Fiquei muito contente e agradeci ao Santo Padre, com quem já tive oportunidade de falar”, assinala o penitenciário-mor, que diz receber esta decisão, “com toda a humildade”.
“Servi a Santa Sé em países com muitas dificuldades, como a Guatemala e o Vietname, em anos de guerra, o México ou El Salvador, na África do Sul com Nelson Mandela”, recorda.
O novo cardeal foi núncio (embaixador da Santa Sé) em Espanha, onde permaneceu entre 2000 e 2009, acompanhando a subida ao poder do primeiro-ministro José Luis Zapatero e é sobre estes anos que revela um pouco mais sobre a sua forma de agir.
“Embora tenha falado pouco, resolvemos os problemas”, refere.
De Madrid, D. Manuel Monteiro de Castro partiu rumo à Santa Sé, em julho de 2009, quando assumiu o cargo de secretário da Congregação para os Bispos, tendo sido posteriormente nomeado secretário do Colégio Cardinalício, antes de, em janeiro deste ano, passar a ser o responsável máximo pela Penitenciaria Apostólica, tribunal que remonta ao século XIII.
“Para mim foi uma surpresa, nenhum dos meus antecessores tinha ido para a Cúria, eu tinha tudo planificado para ir para Santa Eufémia [Prazins, Guimarães, distrito de Braga, sua freguesia natal]”, constata.
Quanto ao cargo de penitenciário-mor, na liderança de um tribunal, este responsável recua até ao ano de 1969 quando, durante as férias da Academia Pontifícia Eclesiástica (que forma os diplomatas do Vaticano), fez o exame da Rota Romana (outro dos tribunais da Santa Sé): “São doze horas para dar uma sentença e em latim”.
D. Manuel Monteiro de Castro sublinha a dimensão positiva das suas novas funções, falando num “tribunal de misericórdia”, que procura, com a ajuda dos seus membros, “levar as pessoas a sentirem-se felizes, realizadas, com os olhos postos em Deus”.
“Hoje, no mundo, tudo vale o mesmo e as pessoas deixam correr, mas chegam a um certo momento em que não se sentem felizes, não se sentem realizadas. Aqui, procuramos ajudá-las”, sublinha.
Dentro das funções do penitenciário-mor há um conjunto de situações que se referem a excomunhões, mas também nestes casos o novo cardeal português prefere colocar a tónica no facto de a intervenção da Santa Sé permitir que a pessoa possa “pôr a sua vida em ordem” e voltar a estar de bem com a sua consciência.
OC