Novas tendências mostram mudança acelerada

Sociedade portuguesa cada vez mais «aberta e veloz» coloca novos desafios à Igreja e à sua mensagem Um estudo sobre as novas tendências na sociedade portuguesa apresenta desafios lançados à sociedade em geral e à Igreja que reflecte e se tem preocupado com as mutações culturais. A necessidade de evasão, seja física ou espiritual, os conhecimentos rápidos que permitam ao indivíduo diferenciar-se dos demais e inserir-se num circulo de relacionamentos, são algumas das 27 tendências que Carlos Liz, director geral da APEME, apresenta como resultado de uma sociedade “ultra acelerada” que teve que “fazer muito depressa o que outros povos fizeram de forma faseada”. A passagem de uma sociedade fechada da qual há uma distância temporal grande, para uma sociedade aberta e veloz, marca a mudança para as novas tendências. As tendências, apresentadas no estudo realizado pela APEME e pelas Produções Fictícias, dividem-se entre o foro pessoal ou privado, foro social e por último, tendências públicas, abrangendo toda a sociedade. Na esfera pessoal, a amostra do estudo aponta a espiritualidade oriental a ganhar destaque, “mas dentro de um contexto urbano com actividade real”. A valorização do saber e o empenho proactivo na construção da saúde são outras premissas valorizadas nesta área. No foro social de salientar a atracção pelos ecrãs, representando a vida no ecrã público, a necessidade de evasão através das viagens e o reforço da importância dos encontros sociais. No domínio público surge em destaque a ruptura com formatos políticos tradicionais, a relativização da orientação sexual e a busca de sentido e a metafísica. Espiritualidade e corpo Carlos Liz afirma à Agência ECCLESIA que a sociedade tenderá a valorizar uma espiritualidade onde exista uma integração com o corpo, “espiritualizar o biológico e personificar o espírito”, convertido nos spas, nas técnicas de relaxamento, “experiências que indicam a necessidade de as pessoas se recentrarem”. Com a vida bastante “agitada e dispersante, nomeadamente deste público”, as pessoas sentem a necessidade de parar, indica. O estudo reflecte uma sociedade que teve de “aprender muito depressa” e com uma “grande necessidade de aprender”, como aposta na diferenciação pelo conhecimento. Este “aprender” assume características próprias e contemporâneas. Não se trata “de um saber acumulado”, mas de “conhecimento necessário para me relacionar com os outros”. Há uma clara noção de que a melhor forma de adaptação a um mundo complexo e imprevisível é aprender, mas depressa, “porque se demoro, o mundo já mudou”. Aprender com a realidade em mudança “Haverá um desajuste entre a oferta espiritual do cristianismo e as novas procuras?” questiona Carlos Liz. Esta é uma questão a que a Igreja se tem dedicado, pois “surgem desafios de sentido, a que a Igreja deve dar resposta, enquadrada na proposta que apresenta”. O director geral da APEME é de opinião que a Igreja deve ter a humildade de perceber que as coisas estão a mudar e querer aprender com quem está a mudar. A fé dá cunho a perspectivas fortes perante a vida, mas por vezes “impede de ter uma abertura de espírito para pensar que os outros, por caminhos tão diversos, andam à procura de sentido”. A disponibilidade é condição fundamental para aprender com os outros. O casamento e o Natal são temas valorizados neste estudo. Para a Igreja que acredita na construção das relações e no campo de sentido que o Natal assume, é importante perceber que estas questões continuam na sociedade, “apesar de adquirirem outra forma ou composição”, mas se “não formos míopes, podemos aprender bastante com estas conjecturas”, expressa o director geral da APEME. A Igreja poderá ser considerada também como uma tendência, segundo Carlos Liz. O que caracteriza a sociedade contemporânea é haver muitas tendências e contra tendências. Nesse sentido, qualquer caminho que indique uma visão pragmática da vida desperta também um outro caminho que valoriza o religioso. A sociedade apresenta um mundo de oportunidades, “tudo está em aberto”. A sociedade está “disponível para ouvir, desde que não se lhe imponha” , assim “nós queiramos apresentar a proposta”. Presente na apresentação do estudo, Laurinda Alves, jornalista, considera que daqui podem extrair-se sinais importantes para a aproximação da Igreja à sociedade, caminhando para uma instituição “mais completa, mais acolhedora e com maior capacidade de perceber a realidade”. Novas tendências que podem tornar mais eficaz a atitude e o discurso da Igreja, numa sociedade em permanente mudança e que revela tendências que não são propriamente orientações que a Igreja dita. O individualismo apresentado como tendência prendeu a atenção da jornalista, que em contraste, encontra na sociedade exemplos solidários, de voluntário, de abertura aos outros. Uma contra tendência, pois Laurinda Alves reconhece não ser esta a dominante. Existem grupos de pessoas com abertura aos outros, “mas não são a maioria”, afirma. A tendência para a espiritualidade oriental, outra tendência apresentada, deve ser encarada com “muito realismo”. Sintoma da globalização e da sensação de proximidade que se cria, esta forma de espiritualidade é um sinal “real e evidente” para a Igreja que deve interrogar-se sobre a forma como comunica a sua mensagem. A atenção a estes sinais é essencial. Falar mais ao concreto da vida, traduzindo a mensagem é um caminho que a Igreja deve encetar, considera Laurinda Alves. As pessoas interpelam-se perante o que vivem no seu dia a dia. Sem perder a profundidade, a Igreja tem a ganhar com “a simplificação do discurso, tornando-o mais acolhedor, aberto à realidade, abordando o concreto da vida de cada um”, frisa. A amostra do estudo O estudo foi realizado através de um inquérito on line, a 100 personalidades consideradas na vanguarda de comportamentos. O perfil da amostra do estudo enquadra-se em personalidades com actividade profissional ligada ao mundo do entretenimento e criatividade, sejam eles professores, artistas, publicitários, editores, jornalistas, pessoas entre os 21 e os 53 anos, tendo em comum o contacto que estabelecem com realidades diversas e o facto de serem bons observadores. A metodologia foi faseada, levantando, numa primeira fase, 146 tendências possíveis até chegar a um número aceitável passível de ser submetido à amostra. O resultado final indica 27 tendências, correspondentes àquelas que foram consideradas por mais de metade da amostra. São consideradas tendências e não acções já instaladas, “mas significativas”, indica Carlos Liz.

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