Novas tecnologias ao serviço da difusão paz

Miguel Cardoso, Director Criativo da Terra das ideias É urgente mudar! Diz o ditado popular que “De boas intenções está o inferno cheio” esta é a primeira ideia que me ocorre ao reflectir sobre este assunto, e se me permitem a extrapolação então “De boas acções está o céu cheio”, passo a explicar. Desde há quase dez anos que trabalho no campo da comunicação visual e por hábito/dever habituei-me a olhar para os objectos de comunicação de uma forma crítica, tentando por uma lado colocar-me no papel do alvo dessa comunicação e sentir se sou ou não atingido e por outro desconstruindo o objecto para perceber o que o faz, ou não, resultar. Na prática, por exemplo, quando vejo um cartaz que me consegue transmitir uma mensagem, e se eu faço parte do alvo a atingir, tento perceber se foi por uma boa escolha de letras, de imagens, de cores, de frase, etc. Em relação aos meios de comunicação utilizados pela Igreja sempre dei uma atenção redobrada pois pelo facto de ser católico tinha um motivo ainda mais forte para analisar o que via, e o que via, regra geral, não era bom. O mais preocupante é que se continua ainda muito mal, e o problema é que, se a mensagem não for passada de uma forma atractiva, muito possivelmente só vai chegar a uma parte das pessoas, é como uma fotocópia mal tirada, só se lêem partes. Lembro-me uma vez de confrontar um Sr. Bispo, (responsável no sector das comunicações sociais da Igreja), sobre a razão pela qual as publicações e materiais gráficos da Igreja serem tão fracos do ponto de vista estético, ele respondeu-me, “que infelizmente muitas vezes os católicos que os fazem não são designers e os designers não são católicos”, ao que eu acrescentei: “Sr. Bispo eu sou católico e sou designer, o que precisar de mim daqui em diante, contacte-me” isto foi há cerca de 8 anos, e até hoje ele nunca me ligou. É na minha opinião fundamental que se aposte numa comunicação de qualidade ao serviço da evangelização. Eu costumo, muitas vezes como exercício, pensar na própria figura de Jesus Cristo, quando se fez Homem e veio ao meio de nós. Imaginem se, por exemplo, Ele tivesse uma voz fraca e uma má dicção o que se teria percebido do Sermão da Montanha, ou se Ele não olhasse olhos nos olhos quando falava com os que iam ao seu encontro. Se Ele usasse só roupas caras e andasse numa luxuosa quadrilha puxada a cavalos, será que alguém lhe daria crédito quando dissesse “reparte o que tens com os outros, deixa tudo e vem”…? Eu acho que não, ao contrário de tudo isso usava uma forma simples mas eficaz de comunicar (através das parábolas), um modo simples de vestir e de estar e uma forma terna e cativante de acolher, e garanto-vos tudo isto é comunicação. Na prática o que acontece é que muitas vezes na Igreja, se gasta por exemplo 2000 euros para se imprimirem cartazes, mas acha-se um desperdício de dinheiro gastarem-se 200 euros, para se pagar o design desse cartaz, até porque quase sempre existe alguém “que se ajeita muito bem para fazer aquelas bonecadas!” a questão é que no final se contabilizarmos a eficiência do cartaz percebemos que se esteve a deitar dinheiro fora. Permitam-me contar-vos como exemplo um caso prático que aconteceu comigo na minha empresa. No ano passado fomos contactos por uma entidade da Igreja que fazia regularmente uma revista e que não estava contente com a imagem que tinha. Nós reformulámos todo o design da revista e hoje em dia pelo custo que costumavam pagar só pela impressão, nós paginamos, tratamos fotografias, fazemos ilustrações e imprimimos. De forma alguma quero que interpretem isto como uma forma de auto promoção, mas como um alerta, de que é possível fazer melhor e é urgente fazê-lo. Não falo só dos meios impressos, falo também da rádio e da televisão. Será que a rádio, nomeadamente a “Rádio Renascença- Emissora Católica Portuguesa”, tem uma forma de comunicar eficiente e actual, que serve os interesses do Evangelho acima dos interesses das audiências? Será que a Canção Nova não deveria ter uma imagem mais cuidada para ter ainda mais eficácia na divulgação da Mensagem de Deus? Será que o programa Ecclesia não poderia fazer mais e ainda melhor? Este tipo de perguntas deve ser colocado diariamente por quem trabalha nestes campos, pois só assim se pode ir crescendo, nunca tendo receio de se pedir colaboração a especialistas nas diversas áreas. As novas tecnologias que hoje nos rodeiam são outro desafio. A Internet pode e deve ser um campo privilegiado para promoção do amor e da paz que Deus nos propõe como forma de vida. Alegra-me ver que cada vez mais paróquias, grupos e movimentos utilizam a net como meio para partilhar. Já sei de grupos que mantêm verdadeiras net-comunidades com discussão de temas, etc. No entanto há tanto ainda para se fazer… penso que, por exemplo, uma boa iniciativa por parte do Secretariado das Comunicações Sociais seria oferecer, a um custo simbólico, um meio de ter um site, ainda que pequeno, às entidades da Igreja que de outra forma fosse complicado conseguirem. Está mais que na hora de se dinamizar os meios, de se mudar a sua imagem, de se perceber a importância que tudo isto tem. Não me digam, por favor, que o importante é o conteúdo e que a forma não interessa, nem me justifiquem com a habitual: “foi com boa intenção!” porque ”De boas intenções…”

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