Novas gerações são o motor do ecumenismo

D. António Couto, presidente da Comissão Episcopal da Missão e Nova Evangelização, que engloba a área do ecumenismo, aborda a realização da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos e o diálogo entre as várias Igrejas e comunidades, em Portugal.

Agência ECCLESIA (AE) – Tomando como exemplo as celebrações ecuménicas que se fazem atualmente e o trabalho conjunto que é realizado nas capelanias dos hospitais, podemos dizer que a unidade entre os cristãos tem evoluído nos últimos tempos?

D. António Couto (AC) – As pessoas podem olhar para estas realidades e dizer que está tudo na mesma e não se mudou nada, mas na verdade andámos muito. Se nós recuarmos 50 anos não tínhamos nada disto e hoje é fácil, sobretudo entre as camadas mais jovens, vermos pessoas de credos diferentes unidas a trabalhar com alegria, mesmo com os mais idosos, já é fácil juntá-los na mesma celebração. Isso acontece cada vez mais, nas dioceses e a nível nacional, começamos a ver que afinal os católicos podem juntar-se com presbiterianos, metodistas ou da Igreja Lusitana, podem rezar ao mesmo Cristo e partilhar a mesma reflexão. Isto é muito belo e acontece também no campo social, onde as diversas Igrejas estão trabalhar em conjunto.

O que é que falta? Temos de nos aproximar ainda mais e penso que esta Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, entre 18 e 25 de janeiro, será um tempo muito propício para isso, que culminará com a festa em honra da Conversão de São Paulo, patrono destes dias e que foi um grande lutador pela causa da unidade entre todos os cristãos. Este ano, a celebração nacional será em Braga, no dia 20, vamos fazê-la numa igreja ligada à comunidade metodista, que tem grande implantação nesta região. Depois teremos também encontros de sensibilização, como uma só Igreja, o que é muito importante. Há ainda muitos cristãos, mesmo católicos, que não estão mobilizados para a importância do ecumenismo, da abertura aos outros, para o acolhimento dos seus irmãos em Cristo. Este tipo de trabalho tanto pode ser feito em conjunto como de forma repartida, em cada Igreja, chamando a atenção dos fiéis para estas questões e, portanto, penso que iremos ter uma semana bastante enriquecedora.

 

AE – A unidade dos cristãos já começa a ser vista pelas comunidades como uma prioridade ou ainda está muito ao nível do debate académico e religioso, dentro das estruturas do clero?

AC – O debate que se fazia era, muitas vezes, apenas mais uma forma de esgrimir argumentos do que propriamente construir a unidade. Hoje, felizmente, já começa a haver uma consonância maior neste âmbito e mesmo entre os fiéis, entre o povo, como será possível verificar durante as celebrações que vamos ter ao longo da semana, em diversos locais do país. Olhos nos olhos, vamos poder ver o que é que está a acontecer nas diversas comunidades e penso que se começa a ver cada vez mais a silhueta de Cristo nesta partilha ecuménica que temos feito.

 

AE – A experiência do Fórum Ecuménico Jovem tem sido importante na sensibilização das novas gerações para esta realidade?

AC – Olhando para aqueles que estão à frente das Igrejas hoje, penso que demos um salto muito grande e acredito que os jovens que vêm atrás vão mostrar uma nova dinâmica, porque estão muito mais abertos ao ecumenismo. Ao nível das hierarquias das diversas Igrejas, já há muita partilha, mas esta juventude traz outro brilho no olhar, que irá quase obrigar o ecumenismo a dar novos passos, basta ver as perspetivas que saíram no último Fórum Ecuménico, que mostrou uma geração mais interativa e disposta ao diálogo uns com os outros.

 

AE – Mas há sempre equilíbrios difíceis a manter, relacionados com o receio de cada Igreja perder a sua identidade própria…

AC – De facto, ao longo da História, os diversos grupos têm tido essa tendência, de procurarem identificar-se e manter a sua identidade própria, para evitarem diluir-se no meio de todos. Mas a gente nova que vem aí não vai estar tão preocupada com isso, vai estar muito mais atenta a Cristo, àquilo que é comum e que nos une, do que aquilo que nos separa, penso que as classes mais novas vão dar um testemunho bastante importante.

 

AE – Esta será, no seu entender, a grande marca da comunidade ecuménica?

AC – Isso já se nota e se não tivéssemos dado todos estes passos não veríamos os resultados que estão a surgir por aí. Ainda estaríamos a jogar em caminhos paralelos mas que nunca se tocariam. Quando fazemos as coisas apenas por dever, só porque Cristo mandou, é pouco. Mas quando sentimos alegria em estarmos na mesma celebração, em convivermos uns com os outros, começa a nascer uma coisa nova e a nossa juventude sente alegria nisto.

 

AE – Pode dizer-se que, relativamente ao passado, este esforço de unidade e ecumenismo é concretizado de uma forma muito mais abrangente?

AC – Certamente e poderemos constatar isso através do guião que vai ser distribuído este ano, que inclui um momento chamado ‘oplatek’, típico da Polónia, na introdução das festas natalícias, em que as pessoas partilham um biscoito em sinal de comunhão e de perdão. Mais do que palavras ou discursos, serão gestos como este, que iremos repetir ao longo das nossas celebrações, que irão também aproximar as pessoas e favorecer o nascimento de uma nova forma de viver a fé.

PTE/JCP

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