A construção de uma Europa do Espírito, assente sobre os valores humanos e cristãos, e não de uma mera união económica tem sido a preocupação dominante de João Paulo II ao longo dos últimos anos, no que se refere ao processo de alargamento da União Europeia, reforçado pela redacção de um Tratado Constitucional. O Papa repetiu, nesta segunda-feira, que a Europa deve encontrar “os modos e os caminhos para construir a paz num clima de frutuosa colaboração, no respeito pelas culturas e os legítimos direitos de todos”, assumindo um papel de pacificação a nível global. Ao receber em audiência o novo embaixador da Lituânia junto da Santa Sé, João Paulo II referiu-se directamente aos desafios levantados pelo alargamento e recordou à nova UE que tem o dever de “perseguir como objectivo o bem das pessoas e de toda a Europa, do Atlântico aos Urais”. A herança particular que cada um dos 25 Estados-membros traz consigo foi destacada pelo Papa, o qual lembrou que a Santa Sé “não cessa de defender o direito dos povos a apresentar-se no cenário da história com as suas próprias particularidades, no respeito das legítimas liberdades de cada um”. Esse património particular, claramente marcado pela herança cristã, serviu para que João Paulo II assegura-se que a Igreja não está nem pode estar à margem da construção europeia. “No actual debate cultural e social, emerge a necessidade de sublinhar as raízes cristãs, das quais o tecido popular tira a linfa vital desde há séculos”, disse. Aos políticos europeus, o Papa receita o respeito pelo “nobre património de ideais humanos e evangélicos”, recomendando que todos se comprometam “na construção de uma sociedade livre, com sólidos fundamentos éticos e morais”. Numa palavra particular aos católicos, fica o desafio de “colaborarem com todas as pessoas de boa vontade” na luta contra modelos de vida “secularistas e hedonistas”. “Os crentes estão dispostos a caminhar lado a lado com aqueles que, através de uma oportuna legislação e estilos de comportamento equilibrados, favoreçam a defesa da família e da vida, desde a sua concepção até à morte natural”, concluiu.
