Nova geopolítica da Igreja

Cumpre-se no próximo dia 19 de Abril um ano sobre a eleição de Bento XVI, tempo mais que suficiente para que o Papa, que muitos classificavam como distante e frio, tenha sabido ganhar o carinho dos católicos. A sua abordagem simples e directa à nova missão que a Igreja lhe confiou passou ao longo de mais de 200 discursos, homilias e mensagens. Ao longo deste tempo, o Papa tem tentado estabelecer uma nova estratégia para a Igreja, que ultrapassa, em muito a esfera meramente administrativa. As recentes mudanças na Cúria Romana e o facto de apenas três dos novos Cardeais estarem ligados à mesma deixam adivinhar que uma reforma mais profunda está a ser preparada. Ao unir, ainda que provisoriamente, os Conselhos Pontifícios da Cultura e do Diálogo Inter-Religioso, bem como o da Pastoral dos Migrantes com o da Justiça e Paz, o Papa parece querer mostrar uma vontade de aligeirar uma máquina que muitos consideram extremamente burocratizada. Para lá das eventuais propostas ou mudanças, a última reunião do Colégio Cardinalício, em finais de Março, manifestou a vontade de Bento XVI em cumprir uma das indicações que mostrou desde o início do pontificado: valorizar a colegialidade no governo da Igreja. O Consistório, aliás, fica marcado por uma forte atenção ao desafio que representa, para a Igreja, a Ásia, que passa a contar com três novos Cardeais – enquanto que grandes sedes episcopais do Velho Continente, como Paris e Barcelona continuam à espera -, permitindo confirmar as prioridades e o estilo de governo do pontificado do Papa Ratzinger. As mudanças na estratégia de Bento XVI mostram, por outro lado, um afastamento em relação à linha defendida pelo Secretário de Estado, Cardeal Angelo Sodano. A abertura ao diálogo com a China, Israel e o Patriarcado Ortodoxo de Moscovo, bem como o aumento das reticências relativamente a uma aproximação com o mundo islâmico são traços marcantes da nova diplomacia do Vaticano. Todas estas opções devem ser lidas, ainda, tendo em conta as últimas mudanças na diplomacia do Papa: o Núncio no Iraque, D. Fernando Filoni, foi enviado para as Filipinas, maior país católico da Ásia, após ter sido o único diplomata ocidental a permanecer em Bagdad durante a pior fase da guerra; o anterior Núncio nas Filipinas, D. Antonio Franco, viu ser-lhe confiado um cargo de grande confiança, como novo Núncio Apostólico em Israel e no Chipre, para além de desempenhar a missão de delegado apostólico em Jerusalém e na Palestina. D. Pietro Sambi, que desempenhava estas funções na Terra Santa, segue agora para o local onde poderá, verdadeiramente, defender os interesses dessas comunidades cristãs, ao ser nomeado como Núncio nos EUA.

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