Nova Encíclica – novo impulso

A Encíclica de Bento XVI, “Deus Caritas est”, configura-se, na perspectiva social, como um novo impulso para o compromisso que é indispensável neste domínio. Nessa ordem de ideias, relembra que, “para a Igreja, a caridade (…) é expressão irrenunciável da sua própria essência” (n.º 25-a). Por tal motivo, está em pé de igualdade, e em estreita articulação, com outras dimensões, igualmente fundamentais, da vida eclesial: “anúncio da Palavra (…) e celebração dos Sacramentos” (ibidem). Em termos operacionais, a caridade – que poderemos designar por “acção social da Igreja “ (ASI) – está destinada a garantir que, “no seio da comunidade dos crentes, não deve haver uma forma da pobreza tal que sejam negados a alguém os bens necessários para uma vida condigna” (n.º 20). Deverá mesmo abranger “as necessidades de todos os seres humanos” (n.º30-a), até porque o conceito de “próximo” está “universalizado” (n.º 15). Para a realização da ASI, a Encíclica realça especialmente dois tipos de actividades: a construção de uma “justa ordem da sociedade e do Estado”, que “é dever central da política” (n.º 28 e 30-a); e a própria ASI (n.º(s) 28 a 39). Esta acção desdobra-se, por sua vez: (1) – na participação dos fiéis leigos a favor daquela “ordem justa” (n.º 29); (2) – por outro lado, em “organizações diversificadas” de ASI (n.º 31); (3) – e, ainda, nas “numerosas formas de colaboração entre as estruturas estatais e as eclesiais” e, bem assim, como outras Igrejas e Comunidades (n.º 30-b). A propósito destes dinamismos, a Encíclica salienta que “um fenómeno importante do nosso tempo é o aparecimento de diversas formas de voluntariado, que se ocupam de diversos serviços (n.º 30-b). Num paradoxo aparente e cheio de fecundidade, Bento XVI, acentua que a ASI não se deve inspirar nas ideologias do melhoramento do mundo (n.º 33 e 36), nem pretender realizar sozinha esse melhoramento (n.º 35) nem cair no “activismo” e “secularismo” (n.º 37); em contrapartida, incita à participação nesse melhoramento (n.º (s) 35, 36 e 34). Em síntese e em termos globais, a Encíclica afirma que é “necessária a voz comum dos cristãos (…)” (n.º 30). É necessário, afinal, criar “um grande movimento empenhado na defesa da pessoa humana e na tutela da sua dignidade” (n.º 538 do Compêndio da Doutrina Social da Igreja, em conformidade com o n.º 3 da Encíclica Centesimus Annus, de João Paulo II). Acácio F. Catarino

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