Nova encíclica apresentada a 7 de Julho

«Caritas in veritate» aborda temáticas sociais e económicas que têm estado presentes nas intervenções de Bento XVI A sala de imprensa da Santa Sé anunciou esta Quarta-feira que a nova encíclica do Papa, "Caritas in veritate" (Caridade na verdade), será apresentada no próximo dia 7 de Julho, no Vaticano.

Para falar com os jornalistas estarão presentes o Cardeal Renato Martino, presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz, bem como D. Giampaolo Crepaldi e o professor Stefano Zamagni, do mesmo Conselho.

O texto da encíclica será publicado, desde logo, em italiano, francês, inglês, alemão, espanhol e português.

Bento XVI revelara esta Segunda-feira que estava "próxima" a publicação da sua terceira encíclica,  dedicada a temáticas sociais.

"Este documento, que tem a data de hoje, 29 de Junho, solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, pretende aprofundar alguns aspectos do desenvolvimento integral na nossa época, à luz da caridade na verdade", disse aos peregrinos reunidos na Praça de São Pedro, para a recitação do Angelus.

O Papa indicou que serão retomados os temas tratados na "Populorum Progressio", documento de referência para a Doutrina Social da Igreja, publico em 1967 por Paulo VI.

"Confio à vossa oração este novo contributo que a Igreja oferece á humanidade, no seu compromisso por um desenvolvimento sustentável, no pleno respeito pela dignidade humana e pelas reais exigências de todos", concluiu.

As outras duas encíclicas de Bento XVI são "Deus caritas est", de 2006, e "Spe salvi", de 2007, centradas nas "virtudes teologais" da caridade e da esperança.

Bento XVI repete a palavra "caridade", abordando desta feita matérias ligadas ao mundo do trabalho, da economia e do desenvolvimento. Num mundo ainda abalado pela crise financeira que fez desmoronar várias das coisas que dava como certas, o Papa apresenta regras para o mundo económico e exigências de solidariedade.

Já em 1985, numa intervenção que viria a ganhar novo sentido à luz dos últimos acontecimentos da vida económica, o então Cardeal Joseph Ratzinger previa a crise no sistema financeiro mundial. Numa conferência intitulada "Market Economy and Ethics", proferida em Roma, a 23 de Novembro de 1985, Joseph Ratzinger disse que o declínio observado ao nível da ética poderia "levar a um colapso das leis do mercado".

Sobre estas temáticas, que levaram a uma revisão do texto, o Papa oferecerá um contributo incontornável para repensar uma economia dominada por paradigmas dominantes que se vieram a revelar um fracasso.

Ética e mercado não estão de costas viradas, para Bento XVI, e vários responsáveis da Igreja têm subscrito a posição de que a actual crise mostra, sobretudo, uma perda de valores. O ser humano não deve ser um escravo das regras de mercado ou, pior ainda, estar submetido à crença de que as leis desse mercado são boas em si mesmas e levam, necessariamente, ao bem, sem depender da moralidade de cada sujeito.

"Os dois pressupostos não estão completamente errados, como demonstram os sucessos da economia de mercado, mas não são aplicáveis sem limites nem justos em absoluto, como parece evidente pelos problemas da economia mundial actual", escrevia o Papa… há 24 anos.

Tal como Peter Koslowski, Bento XVI acredita que a economia não se rege por leis económicas, apenas, mas por homens. A falta de ética nas estruturas económicas teria levado, por isso, à actual situação de crise.

A liberdade económica não é, assim, uma condição suficiente em si mesma para o sucesso. Aliás, na linha da tradição da Igreja, o actual Papa não vê no capitalismo um modelo único para a economia, embora não entenda a actual crise como uma crise de sistema.

A Igreja assume-se como equidistante face ao capitalismo e ao marxismo, sistemas que Bento XVI acusa de terem fracassado, de um ponto de vista ideológico, por causa das suas promessas de criar um mundo melhor deixando Deus de lado ou "entre parênteses".

Nem só de dinheiro deverá falar o Papa na sua terceira carta magna, onde devem ter lugar alertas conta os ataques à dignidade humana – uma questão sempre presente -, o terrorismo, questões ecológicas, a globalização e a luta contra a fome, entre outras. A cultura da vida e da paz, tantas vezes presente nos seus pronunciamentos, deve aqui ocupar um lugar privilegiado, face às novas problemáticas sociais e económicas.

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